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Uma trucada aérea 

ERNANI BUCHMANN CABECA hojesc

A aventura constituiu uma das maiores extravagâncias de que pude participar. A questão era que a Rede Barriga Verde, à frente seu diretor comercial, Paulo Velloso, montou em um hotel no Campeche um torneio de fim de semana para receber o pessoal da Atruco – a Academia Paranaense de Truco.

O time de Florianópolis era encardido, com hino e uniforme para seus truqueiros, além de utilizar o baralho espanhol, aquele em que os naipes são representados literalmente: espadas são espadas, paus são porretes, copas são taças, ouros são moedas do metal. Vantagem para os locais.

De Curitiba saiu um ônibus na sexta-feira pela manhã. Debaixo de muita chuva, que São Pedro não deu trégua, a turma foi cantando e, devo reconhecer, alguns também bebendo, conforme os testemunhos depois narrados. Uma heresia!

Deu-se que alguns atletas do primeiro escalão da Atruco não puderam ir de ônibus. Uns por exigências profissionais, outros por medo da estrada, ainda não duplicada. Em época pré-WhatsApp, restou-nos frenéticos telefonemas para discutir a possibilidade de estarmos presentes. Só havia uma solução: fretar um avião.

Em tempos de Plano Real, com nossa moeda equiparada ao dólar, a brincadeira custaria caro, mas nada que uma divisão entre 10 pessoas não viabilizasse a viagem, lastreada nos respectivos cartões de crédito. Às 8h da manhã, sacudimos a chuva dos casacos, nos posicionamos nas poltronas e alçamos voo. Toni Maciel apresentou uma garrafa de Royal Salut a ser aberta na viagem de volta, para comemorar ou lamentar.

No aeroporto uma van da Barriga Verde nos esperava. Chegamos ao hotel sob aplausos, prontos para as batalhas. Eram cinco duplas de respeito acrescentadas ao poderio do exército invasor.

O torneio foi disputado como um clássico Avaí x Figueirense, sem economizar na rivalidade. A pausa para o almoço demonstrou a hospitalidade manezinha: um bufett de frutos do mar com camarões do porte de lagostas, peixes nobres a desmanchar na boca, pimentas de rigor, cachaças do Box 32 e as cervejas geladas padrão Floripa.

Com as forças restauradas, restava fazer bonito. Fizemos. Das cinco duplas, quatro voltaram com troféus. Apenas a do meu filho Marco, então com 13 anos, não foi premiada.

À meia-noite nos apresentamos na pista do aeroporto. Os pilotos do jatinho tiveram o cuidado de providenciar gelo e club-soda. Enquanto o avião subia, a garrafa descia, servindo os campeões. Em 25 minutos de voo, uma dose para cada adulto secou a botelha.

Desembarcamos de alma lavada, sabendo que os boletos dos cartões seriam pagos sem arrependimento. Há coisas que o dinheiro não compra, mas você pode ir buscar. À jato.
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