Sempre que Felipe, 1 ano e 9 meses, nos visita, corre para a biblioteca. Lá, se dedica a puxar um ou outro livro da estante para que o avô desencave deles alguma história. A tarefa não é fácil, a maioria dos livros não têm ilustrações ou fotos – o que obriga o narrador a inventar aventuras que encantem o neto.
Dias desses, depois de mais uma incursão à sala repleta de livros, Felipe trouxe uma figurinha: o craque Zizinho com a camisa amarela da seleção brasileira. Imagino que seja uma foto de 1957, quando o meia jogou as eliminatórias da Copa de 1958 contra o Peru. Foi sua despedida da seleção.
Em uma época em que os grandes jogadores ainda eram poucos, Zizinho foi estrela de primeira grandeza. Antes dele, tivemos só meia dúzia: Marcos Carneiro de Mendonça, o primeiro dos nossos goleiros fora de série; Friedenreich, o pioneiro entre os super artilheiros; Fausto, destaque na Copa de 1930, embora fosse tuberculoso e jogasse tendo hemoptises; Domingos da Guia, o zagueiro craque; e Leônidas da Silva, o Diamante Negro. Zizinho foi o melhor jogador da Copa de 1950, mesmo com a derrota para o Uruguai no doloroso Maracanazzo.
Estive com Zizinho em 1971. Repórter da Rádio Clube Paranaense, fui encontrá-lo em um sábado à tarde, com alguns conhecidos dele, no quarto em que estava hospedado no Hotel Climax. Era técnico do América do Rio, que jogaria contra o Coritiba no dia seguinte.
Ele que não queria falar sobre o desastre do Maracanã, nem sobre sua carreira. Com João de Pasquale e Adão Plínio da Silvia, relembrou as histórias folclóricas vividas no futebol, ele que foi ídolo de Pelé.
Felipe, nascido e morador de São Paulo, não sabe quem foi Zizinho. O que ele sabe de futebol é a fascinação que tem ao ver um jogo na tela da televisão. Corintiano desde o berço, por exigência do pai, a cada gol, seja ou não do Corinthians, ergue os braços e grita em comemoração.
Hoje à noite, quando o Brasil entrar em campo contra o Paraguai, ele já estará dormindo. Não faz ideia de que o jogo, pelas Eliminatórias da Copa de 2026, tem a mesma importância dos jogos contra o Peru para a Copa do Mundo de 1958.
Por enquanto, e até que tenha idade para ler, vai desconhecer também que inspirou ao avô a escrita desta crônica. Seu primeiro gol nas letras.