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SILVIO LOHMANN CABECA hojesc

UE recua e afrouxa combate ao greenwashing

De forma surpreendente, a Comissão Europeia — uma das três instâncias de governança da União Europeia (UE), ao lado do Conselho e do Parlamento — decidiu retirar de pauta uma proposta para combater o greenwashing, prática de marketing enganoso sobre sustentabilidade. O texto da chamada Green Claims Directive, que deveria ser finalizado e votado nesta semana, era parte importante do Pacto Verde Europeu (Green Deal).

Apresentada em 2023 e discutida desde então, a proposta exigia que as marcas comprovassem, com base científica, qualquer referência a benefícios ambientais feita em propagandas de produtos e serviços. A ideia do marco regulatório era padronizar regras, proteger consumidores e dar segurança jurídica às corporações realmente comprometidas com a sustentabilidade.

A Comissão justificou a retirada alegando que a iniciativa poderia pesar demais para as pequenas empresas. Por outro lado, ambientalistas veem o recuo como mais um duro golpe para a agenda verde da União Europeia que, além de seguir sem uma norma comum para coibir o greenwashing, também deve afrouxar outras exigências da política ambiental.

Pacto simplificado (I)

A UE se apresenta como líder global na agenda climática, com normas rígidas para alcançar a neutralidade de emissões até 2050, por meio do Pacto Verde. A política é ancorada em três grandes pilares: a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD), que obriga empresas a detalharem seus impactos ambientais, sociais e de governança (ESG); o Regulamento de Taxonomia, que define o que é, de fato, uma atividade sustentável; e a Diretiva de Devida Diligência (CSDDD), que impõe responsabilidades às empresas ao longo de toda a cadeia de produção.

Pacto simplificado (II)

Mas, em fevereiro, veio um sinal de mudança no rigor das regras: o Pacote de Simplificação Omnibus, criado para aliviar a carga regulatória — especialmente sobre os pequenos negócios. O argumento é o de desburocratizar as normas do Pacto consideradas restritivas, e que estariam tornando as empresas europeias menos competitivas no mercado global, especialmente em relação aos concorrentes da China e dos Estados Unidos. Mesmo sem abandonar as metas da agenda da sustentabilidade, com o novo pacote a União Europeia cede à pressão econômica, sustentando que as exigências atuais poderiam travar o crescimento do setor produtivo do bloco.

Som limpo

A banda britânica Coldplay vai relançar nove álbuns em discos fabricados com plástico reciclado, reduzindo em até 85% as emissões de carbono em relação ao vinil tradicional. Cada LP reaproveitará o material de cerca de nove garrafas PET. A ação reforça o compromisso ambiental do grupo, que já reduziu em 59% as emissões de CO2 na turnê Music Of The Spheres, superando a meta inicial de 50% em comparação com os shows realizados entre 2016 e 2017.

Mais energia

Os investimentos globais em energia devem alcançar um recorde de US$ 3,3 trilhões em 2025, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA). O montante envolve projetos de energias renováveis, nuclear, redes, armazenamento, eficiência energética e transmissão. Tecnologias limpas responderão por mais de dois terços do total, com destaque para a geração solar, que deve atrair US$ 450 bilhões. O relatório também projeta US$ 70 bilhões em energia nuclear — alta de 50% em cinco anos. O avanço reflete a preocupação global com a segurança energética e a competitividade em meio à crise climática.

Couro brasileiro (I)

A ONG britânica Earthsight, organização sem fins lucrativos que investiga crimes ambientais e sociais desde 2007, divulgou uma denúncia que liga grifes de luxo ao uso de couro brasileiro proveniente de áreas de desmatamento, principalmente no Pará. De acordo com a publicação, o couro sai do Brasil para a Itália, é processado e rebatizado como “couro italiano”. Os curtumes citados são a Faeda, que negou utilizar produto brasileiro, e a Conceria Cristina, que não respondeu aos questionamentos da organização.

Couro brasileiro (II)

As empresas brasileiras mencionadas na publicação são o frigorífico Frigol e o curtume Durlicouros, classificado como um dos maiores exportadores de couro para a Europa. A Earthsight afirma que a americana Coach seria o principal destino do produto rebatizado, mas também cita que Chanel, Fendi, Hugo Boss, Chloé, Gucci e Louis Vuitton são clientes dos curtumes italianos. A maioria das marcas negou usar couro brasileiro. A Chanel informou ter encerrado a relação com um dos curtumes, enquanto a Chloé foi a única a apresentar rastreabilidade completa da sua matéria-prima.

Emissão fashion

A Shein, gigante da indústria fast fashion, anunciou que suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) foram validadas pela SBTi (Science Based Targets Initiative), organização global que certifica processos alinhados com a ciência climática. Até 2030, a companhia promete diminuir em 42% as emissões dos Escopos 1 e 2 — que abrangem fontes diretas e controladas, além do uso de energia — e em 25% as do Escopo 3, que envolve toda a cadeia de valor. O conglomerado pretende reduzir em 90% sua contribuição para o aquecimento global quando 2050 chegar. A notícia foi vista com ceticismo por profissionais que acompanham o processo industrial da companhia e do mundo da moda.

Velocidade (in)sustentável?

A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) demitiu Sara Mariani, que era responsável pelas áreas de Sustentabilidade, Diversidade e Inclusão da organização. Ela ocupou o cargo por apenas 18 meses, e a função foi extinta. A decisão recebeu críticas de diversas publicações, que colocaram em dúvida o real compromisso da FIA com pautas sociais e ambientais. A federação afirmou que a mudança faz parte de uma reestruturação interna e que as atribuições da antiga diretoria foram distribuídas entre outros setores.

Foto: Gary Chan/Unsplash

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