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GERSON GUELLMANN CABECA hojesc

Tristeza: hoje, como ontem, o Brasil indo pelo ralo

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Em 5 de dezembro de 2017, publiquei no meu blog um texto impactante de Luiz Alberto de Castro Wille, CEO e fundador da Alden Tecnologia e Desenvolvimento, experiente consultor em governança corporativa e estratégia empresarial, com mais de três décadas de atuação no Brasil e no exterior – além de professor e conselheiro de grandes empresas.

O texto, um desabafo – um verdadeiro libelo contra a degradação institucional do país –, foi escrito com indignação serena e expunha a tragédia silenciosa que se abate sobre o Brasil há décadas: uma erosão em todas as instâncias da administração pública, causada por omissões, privilégios e corrupção em todos os níveis.

A autorização para o compartilhamento, que generosamente ele me concedeu na ocasião, foi agora renovada porque, assim como eu, ele deve concordar – e lamentar – que, de lá para cá, quase nada mudou.

Todos os que se debruçam sobre nossa triste realidade sabem que uma tragédia silenciosa se abate sobre o Brasil há décadas – uma erosão institucional que se dá por negligência, privilégios e corrupção sistêmica.

O que mais me espanta, quase oito anos depois, é constatar que tudo aquilo que o texto denuncia não apenas continua a acontecer, como parece ter se naturalizado.

E não me refiro apenas aos escândalos visíveis. Refiro-me ao drama cotidiano: a fila na UPA, o salário defasado do professor, a corrupção que muda de nome, mas não de prática; os desmandos; a usurpação de prerrogativas do Executivo pelo Judiciário; o Legislativo, cujos integrantes – em boa parte – parecem atuar (eu disse atuar?) de costas para os que os elegeram… etc.

Por isso, copio novamente este texto. Porque ele continua necessário. E porque o Brasil de 2025 continua… indo pelo ralo.

Texto original (na íntegra):

“Quando um dia a história e os homens sensatos julgarem os governos que tivemos nesse início de século, os equipararão aos que cometeram os crimes de guerra do século XX, em que a crueldade para com a população é diária, em conta-gotas, a cada escola não viabilizada, a cada uma das unidades de saúde lotadas de sofredores, pelos idosos esquecidos, pelos jovens cujas esperanças foram subtraídas, pelos projéteis de armas colocadas nas mãos dos bandidos sem direito dos cidadãos à legítima defesa, tudo isto em troca de: salários pomposos, aposentadorias integrais extensivas a várias gerações, ajudas de custo de toda ordem, 5.600 municípios para dar vagas ao Executivo, Legislativo e Judiciário, tributos incontáveis e incompreensíveis, regulamentação tardia das leis, insegurança jurídica, passado incerto, e o pior: não se aplica a lei a quem pratica o mal e se candidata novamente!

Quem vai estancar esta sangria? Este engodo? Esta agonia?”

A pergunta final do texto – “Quem vai estancar esta sangria? Este engodo? Esta agonia?” –  continua válida. Como disse, talvez mais desesperada do que nunca.

Em pouco mais de um ano teremos eleições. Será que saberemos identificar as pessoas de bem, aquelas que poderão nos afastar da dualidade que sempre nos obriga a escolher entre o ruim e o péssimo, o menos pior?

Digo isso porque, se lá atrás, parecia que estávamos nos aproximando do fundo do poço, hoje temos a desesperadora sensação de que alguém ‘‘contratou uma empreiteira’’ para cavar ainda mais fundo.

O ralo não seca porque a sujeira é produzida em escala industrial – e parece ter vindo para ficar.

A única forma de começar a virar esse jogo é fazendo barulho – mesmo que seja com palavras.

Por isso, republico este texto com a mesma convicção de 2017, mas com a tristeza de quem sabe que, ao contrário do que se diz do vinho, aqui no Brasil as misérias nacionais só pioram com o tempo.

Tristeza. Que D’us se apiede de nós.

Leia outras colunas do Gerson Guelmann aqui.