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MARCUS VIDAL CABECA hojesc

Stevie Ray Vaughan, herói do blues rock

Lançado em junho de 1983, Texas Flood, o primeiro álbum do espetacular guitarrista Stevie Ray Vaughan and Double Trouble, sua banda, formada por Tommy Shannon, no baixo e Chris Layton, na bateria, mostrou ao mundo a mistura do blues eletrificado com o hard rock. Uma das maiores estreias que o gênero poderia apresentar. Produzido pela própria banda e por Richard Mullen, vendeu mais de 3 milhões de cópias na época. Um sucesso estrondoso. Infelizmente Stevie faleceu num desastre de helicóptero, em 1990.

 

texas flood Stevie Ray Vaughan

 

Love Struck Baby, a abertura do álbum, é explosiva, com um riff acelerado e pegajoso que mostra a influência de T-Bone Walker e Chuck Berry. A guitarra de Stevie corta como uma lâmina, enquanto a bateria de Chris Layton e o baixo de Tommy Shannon mantêm um groove irresistível. A letra é simples, falando de paixão repentina, mas o verdadeiro destaque é o solo rápido e preciso, característico do estilo de Vaughan.

 

O maior hit do álbum, Pride And Joy é um Texas shuffle clássico, com um riff que se tornou uma das assinaturas da banda. A voz de Stevie é carregada de atitude, e a dinâmica da banda é impecável. O solo é econômico mas cheio de feel, com frases que conversam diretamente com a melodia. Mstra como Vaughan sabia dosar técnica e emoção.

 

Texas Flood, a faixa-título, é uma das maiores interpretações de blues da história. Originalmente gravada por Larry Davis em 1958, a versão de SRV é uma aula de expressividade. O timing, os vibratos largos e o uso do whammy bar criam uma sensação de lamento. A dinâmica da banda aqui é sublime, com momentos de quase silêncio que explodem em ataques passionais de guitarra.

Tell Me é um blues acelerado, quase rockabilly, com influência de Howlin’ Wolf. O riff principal é simples mas eficaz, e o solo traz licks rápidos e agressivos. A voz de Stevie soa mais rouca e urgente, complementando a energia crua da faixa.

Testify é uma releitura instrumental da música dos Isley Brothers, transformada em um showcase de virtuosismo. A guitarra de Stevie alterna entre frases rápidas e chords funk, enquanto a seção rítmica mantém um groove dançante. O tone é limpo e cortante, mostrando sua habilidade mesmo sem distorção.

Uma das faixas mais técnicas do álbum, a instrumental Rude Mood é um blues-rock frenético, com influências de Lonnie Mack. Cada nota tem intenção. A interação entre guitarra, baixo e bateria é perfeita, especialmente nas viradas sincopadas.


Mary Had A Little Lamb
é uma versão bluesificada da canção infantil, inspirada na interpretação de Buddy Guy. SRV transforma algo aparentemente simples em uma jam elétrica, com slides de guitarra que soam quase como risadas. O solo é cheio de personalidade, provando que ele podia extrair emoção até de uma melodia básica.

Dirty Pool é um blues lento e pesado, com um clima soturno. O tone da guitarra é sujo e meio heavy, lembrando Albert King. A letra fala de traição e vingança, e a guitarra responde com notas cortantes e dramáticas. O solo é uma das joias do álbum.

I’m Cryin’ é um shuffle animado, com um riff sensacional e vocais cheios de swing. A guitarra responde aos versos como um segundo vocalista, e o solo traz frases rápidas intercaladas com pausas dramáticas. A química da banda é palpável, especialmente nas viradas de Layton e Shannon.

A instrumental Lenny é o momento mais lírico do álbum, dedicado à esposa de Stevie, Lenora. Tocada em uma Stratocaster com tone limpo e uso generoso do vibrato, a música é uma obra-prima de sensibilidade. As harmonias são ricas e a emoção transborda em cada nota. Um contraste perfeito com a ferocidade do resto do disco.

Texas Flood é um álbum atemporal, equilibrando técnica, emoção e autenticidade. Stevie Ray Vaughan não apenas dominava o vocabulário do blues, mas ele o reinventou com sua própria voz. Cada faixa mostra um aspecto diferente de seu talento. Uma verdadeira aula de blues. De rock’n’roll. Do bom e velho rock’n’roll.

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