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MARCUS VIDAL CABECA hojesc

Slayer: a reserva moral do thrash metal

O maior representante do thrash metal sempre foi e sempre será o Slayer. Com seu peso, sua velocidade, sua batida e letras afiadas, a banda tornou-se uma referência no estilo. Seu terceiro álbum de estúdio, Reign in Blood, lançado em 7 de outubro de 1986, mostrou a solidez da banda. Produzido pelo mago Rick Rubin e pelos próprios músicos: Tom Araya (baixo e voz), Jeff Hanemann(guitarra), Kerry King (guitarra) e Dave Lombardo (bateria), o quarteto abalou as estruturas do heavy metal.

 

Reign in Blood slayer

 

Angel Of Death é inspirada nas atrocidades do médico nazista Josef Mengele. A letra descreve de forma gráfica e perturbadora os experimentos realizados nos campos de concentração. Isso causou controvérsias na época, com acusações infundadas de simpatia nazista, o que a banda sempre negou. A introdução é uma explosão de velocidade e agressividade. O riff inicial é clássico e reconhecível de imediato, com uma cadência militarizada. A bateria de Dave Lombardo é frenética, com blast beats e pedal duplo insano. Jeff Hanneman e Kerry King entregam solos caóticos e dissonantes, com cromatismos e alavancadas barulhentas que soam como gritos de tortura.

 

Piece By Piece tem letra curta e brutal. Descreve o desmembramento de vítimas por um serial killer. É um mergulho na mente psicótica sem filtros ou metáforas. A cançaõ entra abruptamente após sua antecessora, com um riff cortante e ritmo ultra acelerado. A estrutura é simples: verso-refrão-verso-solo. O solo é barulhento, dissonante, propositalmente caótico.

Necrophobic descreve obsessão por necrofilia e mutilação, de maneira gráfica e grotesca. A letra busca chocar, como parte da estética extrema do álbum. Mais rápida ainda, com riffs que misturam cromatismo com palhetadas alternadas cortantes. A bateria é um trem desgovernado. É uma das faixas mais curtas e intensas do álbum.

Altar Of Sacrifice cria uma ambientação sombria, quase litúrgica, invertida e profana. O riff principal é carregado de tensão, alternando tempos. A canção cresce em intensidade até um trecho mais cadenciado. O solo aqui é mais estruturado do que os anteriores, embora ainda agressivo.

 

 

Jesus Saves critica à fé cega e à hipocrisia religiosa. Letra provocativa, curta e incisiva. Começa lenta e ameaçadora, com riffs em tom menor, mas rapidamente acelera em uma avalanche de notas. A bateria segue em velocidade absurda. Os vocais são cuspidos com raiva e ironia.

Criminally Insane é um retrato de um assassino internado que sente prazer em matar. A temática psiquiátrica, com laços à insanidade e à violência, é uma constante no metal extremo. Riff mais “groovado” no início, mas sem abrir mão da agressividade. Tem uma pegada quase punk em algumas partes, com bateria quebrada, destacando o trabalho preciso de Lombardo.

Reborn fala sobre reencarnação do mal e possessão. É uma história de terror contada em alta velocidade. Ritmo acelerado, riffs avassaladores e estrutura direta. Os solos são absurdamente rápidos, parecendo improvisados. Tom Araya acelera sua voz ao ponto de parecer que vai sair correndo do microfone.

Epidemic é uma visão apocalíptica de uma epidemia mortal, que destrói corpos e mentes. Em época pré-pandemia, o tema parecia mais fantasioso e sci-fi. Alterna entre riffs velozes e quebras rítmicas abruptas. Destaque para o trabalho das guitarras que se sobrepõem com timbres cortantes.

 

Postmortem tem letra ambígua que pode ser interpretada como uma crítica ao ciclo da violência, ou apenas uma celebração da morte. A repetição de ideias e a ausência de esperança são centrais. Começa mais cadenciada, quase como uma marcha fúnebre. Aos poucos vai aumentando a tensão e culmina em uma parte final absurdamente rápida, como se rompesse com a sanidade.

Raining Blood fala de vingança do além-túmulo, uma alma banida que retorna para causar um banho de sangue. É quase uma narrativa épica em linguagem violenta. A introdução com trovões e um riff sombrio é icônica. Quando entra o riff principal, é como uma parede sonora esmagadora. O breakdown central é pesado e memorável. O solo é cortante, dissonante, e culmina em uma avalanche sonora até que tudo termina abruptamente.

Reign in Blood é um marco do thrash metal. A produção cristalina e seca de Rick Rubin ajudou a criar um som direto e cru, que intensificou a violência sonora do Slayer. O álbum é tão curto quanto devastador, não há momentos de descanso. Ele redefiniu os limites da velocidade, técnica e agressividade no heavy metal. No rock’n’roll. O bom e velho rock’n’roll.

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