
Somente os incêndios florestais do início do ano podem ter causado perdas de US$ 50 bilhões na economia da Califórnia, um dos estados americanos mais suscetíveis aos efeitos da mudança climática. A região enfrenta calor extremo, incêndios, secas, enchentes e elevação do mar.
Em razão disso, o governo local é um dos que mais executam políticas de mitigação, com metas ambiciosas de redução de emissões de gases de efeito estufa, uso de fontes de energia limpa, incentivo ao transporte de baixo carbono, aumento da reciclagem e há um plano de gestão florestal para aumentar o sequestro de CO2.
De outra parte, a adaptação aos desastres naturais passa por investimentos em infraestruturas resilientes, soluções baseadas em ecossistemas, planos estratégicos e monitoramento contínuo das ações. Tudo está estabelecido na Estratégia de Adaptação Climática, que alcançou 92% de eficiência e acaba de ser revisada.
A nova versão reforça seis prioridades: proteger os mais vulneráveis; ampliar saúde e segurança públicas; construir uma economia resiliente; expandir soluções baseadas na natureza; tomar decisões guiadas pela ciência; e fortalecer parcerias.
A atualização inclui ainda um Plano de Ação de Calor Extremo e a Estratégia de Abastecimento de Água, além de ajustes em métricas e prazos. Tudo foi proposto e aprovado com a participação da sociedade. Um exemplo de que os americanos da Califórnia entenderam que a crise climática exige urgência, metas claras e compromisso coletivo.
Retorno do investimento
Países emergentes, que são os mais vulneráveis aos impactos climáticos, precisam de US$ 280 bilhões anuais em investimentos em adaptação até 2030, segundo cálculos do World Resources Institute (WRI). A organização acrescenta que a aplicação desses recursos deverá dar bom retorno. No horizonte de 10 anos, cada dólar investido pode render até US$ 10 em benefícios, ao se considerar perdas evitadas e ganhos adicionais em produtividade, saúde, empregos e qualidade de vida. Mas para isso, governos, setor privado e instituições financeiras precisam trabalhar juntas e criar mecanismos inovadores de financiamento.
Obrigações de descarbonização
As distribuidoras de combustíveis devem adquirir 48,09 milhões de créditos de descarbonização (CBIOs) em 2026. Esta é a proposta do Ministério de Minas e Energia (MME) que foi colocada em consulta pública que fica aberta até 26 de outubro e trata das metas anuais da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). Cada CBIO corresponde a uma tonelada de carbono que precisa ser mitigada pelas empresas que vendem combustíveis fósseis. Os títulos, que atualmente valem cerca de R$ 48,50, são emitidos por produtores de etanol, biodiesel e biometano e comercializados na B3. No ano passado, o volume de negócios chegou a 38,78 milhões de títulos.
5 Ds da energia
Colunistas do portal da revista Exame, Carlos Henrique Brasil e Yasmin Tavares assinam artigo que enumera os “5Ds da energia” para orientar uma transição energética resiliente e justa. O primeiro D é o da descarbonização e representa o compromisso com a substituição dos combustíveis fósseis. O segundo é o da digitalização, que aborda redes e equipamentos inteligentes e Inteligência Artificial, para garantir eficiência na produção e consumo. O terceiro aspecto é a descentralização da geração e o quarto a democratização, no sentido de que a energia limpa deve alcançar mais gente. O quinto item citado é o Desenho do Mercado. Na verdade, um redesenho que aborde novas tecnologias, integração da geração distribuída, modelos mais dinâmicos de precificação e novos serviços, como armazenamento.
A China no Brasil
A geração de energia teve a maior fatia do investimento chinês no Brasil em 2024 e o País foi terceiro principal destino do dinheiro aplicado pela China no mundo, atrás somente do Reino Unido e da Hungria. Empresas chinesas confirmaram 39 projetos em solo brasileiro, com um aporte total de US$ 4,18 bilhões, sendo US$ 1,43 bilhão (34%) no setor elétrico, principalmente em parques eólicos e solares. O petróleo ficou em segundo lugar, com cerca de US$ 1 bilhão. A indústria de manufatura absorveu 14% e a mineração 13% dos recursos aplicados pelos asiáticos na economia brasileira.
O desafio da transição (I)
O Índice de Transição Energética (ETI) de 2025, do Fórum Econômico Mundial (WEF), aponta uma melhora significativa na efetivação de ações para geração de energia limpa nos 118 países avaliados. As economias avançadas – principalmente países nórdicos – ocupam 16 das 20 primeiras posições do ranking. O relatório também expõe um paradoxo: mesmo com mais de US$ 2 trilhões em investimentos em energia limpa em 2024, a segurança energética estagnou e as emissões globais atingiram níveis recordes. Há, ainda, o desafio de direcionar capital para mercados menos desenvolvidos.
O desafio da transição (II)
O Brasil é citado positivamente na sondagem do Fórum Econômico por ações em três áreas da transição energética. A primeira é a que trata do incentivo para a mistura de biocombustíveis no abastecimento de aviões e transporte pesado, aproveitando a experiência com o etanol. Outro ponto observado é o potencial para se tornar uma superpotência de hidrogênio verde. O relatório observa ainda o esforço brasileiro para melhorar a infraestrutura de transmissão, dentro do Sistema Interligado Nacional, para permitir que a energia limpa gerada no Nordeste atenda polos industriais mais ao Sul.
(Foto: Martin Jernberg/Unsplash)
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