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ELIZABETH TITTON CABECA hojesc

Quando um país se importa com sua cultura

Esta semana, experimentei a grande alegria de viver, pela internet, o XIX Concurso Frederic Chopin 2025, que acontece em Varsóvia, organizado pelo Instituto Frederic Chopin, há cem anos, por ocasião do aniversário de falecimento do compositor polonês. Foi uma descoberta, totalmente ao acaso, zapeando em busca de algum filme para assistir na hora do descanso. Desde o primeiro momento, fiquei enfeitiçada, até mesmo, aguardando o resultado final, às quase três da manhã da segunda, dia 21 de outubro, totalmente impossibilitada de dormir em paz sem conhecer da decisão do júri.

O Concurso teve início dia 2 e terminou dia 23 de outubro. Comecei a acompanhar em algum momento, no meio da segunda fase da seleção, já que era composto de três etapas seletivas, mais a semifinal e final. Inscreveram -se seiscentos e quarenta e dois pianistas, dos mais diversos países, dos quais foram ouvidos 162 e dentre os quais foram selecionados, para efetivamente participar da fase principal, 85 candidatos. Entre estes, 19 haviam sido automaticamente aceitos, por serem pianistas vencedores de outros concursos oficiais.

 

Prédio da Filarmonica Nacional de Varsóvia, reconstruido depois da Segunda Guerra Mundial para abrigar a orquestra Filarmonica nacional criada em 1901. (Wikipédia)

 

O que mais me impressionou, além da impecável organização, foi o apoio que dá, à causa da cultura, o Instituto Frederic Chopin, uma instituição governamental. O concurso acontece a cada cinco anos, sendo que nos anos intermediários em que não acontece o concurso, inúmeros e profundos projetos são continuamente realizados a partir do Museu Chopin, apoiados pelo governo Polonês. O evento é fortemente patrocinado pela comunidade por meio de grandes empresas privadas. Este ano a competição aconteceu no prédio da Filarmônica Nacional de Varsóvia.

Os jovens pianistas, com idades entre dezessete e trinta anos, são um show à parte. Hoje, em sua maioria, são de origem oriental, mas nos anos iniciais da competição, costumavam ser mais russos e poloneses. Brasileiros também participaram, em outros anos, como Oriano de Almeida que, em 1949, recebeu um diploma especial, mas não ficou entre os seis primeiros colocados. Carmem Vitis Adnet também recebeu o mesmo diploma. Ingrid Uemura participou da fase preliminar de Varsóvia, em 2024. Em toda a história do concurso, apenas Arthur Moreira Lima terminou em segundo lugar na edição de 1965, ocasião em que a argentina, Martha Argerich, foi a primeira colocada.

 

“Liszt ao Piano” – Pintura de autor desconhecido. (Detalhe da obra).

A música de Chopin, compositor romântico de origem polonesa, que viveu parte de sua vida na França, é de uma riqueza e variedade de ritmos e melodias que fascinam. Suas “Polonaises”, Mazurcas, Noturnos e Prelúdios, que tanto nos maravilham, foram profundamente comentados por especialistas durante entrevistas que aconteciam nos intervalos das apresentações do concurso.

O júri, composto por 17 especialistas, convidados de diversos países, eram críticos, professores, ex-participantes premiados em concursos anteriores: “la crème de la crème”. O presidente foi o renomado pianista, Garrick Ohlsson, vencedor do concurso de 1970. A decisão, como na maioria dos julgamentos, foi bastante controversa, segundo os internautas de todo o mundo, que acompanhavam assiduamente as apresentações, participando nos blogs e tic tocs com seus comentários e torcida por seus candidatos favoritos.

O premiado desse ano foi o jovem Eric Lu, dos Estados Unidos, que já havia participado das finais 10 anos antes, tendo sido premiado com o quarto lugar naquela oportunidade.

“Monumento a Frederic Chopin” – 1909/1926 – bronze – Parque Real Lazienky- designer Waclaw Szymanowski – Varsóvia – Polonia.(Wikipédia)

Enfim, foi um período muito emocionante de reencontro com Chopin que, na minha adolescência, foi meu compositor favorito para o piano. Também permitiu um grande aprendizado sobre a organização de um evento cultura de tal envergadura, além de poder desfrutar de tão diversas interpretações das obras do compositor pelos jovens intérpretes.

Finalmente, foi lindo ouvir e ver a Orquestra Filarmônica Nacional de Varsóvia apresentando-se repetidas vezes, com a mesma qualidade e brilho, acompanhando o repertório proposto, constituído de “Polonaises” e os Concertos 1 e 2 de Chopin, que foram as peças de confronto na final do concurso. Acompanhar a delicadeza do apoio generoso e afetuoso do maestro Andrzej Boreyko em seu contato com os jovens músicos, foi uma alegria.

Tudo, uma grande aula de beleza, elegância e cultura de qualidade, confirmando que a arte, realmente importa!!!!!!

(Ilustração de abertura: “Cartaz do XIX Concurso Internacional Frederic Chopin em Varsóvia (2025)” autor : Dr. Marcin Wladyka vencedor do concurso organizado pelo Instituto Fraderic Chopin e Academia de Belas Artes de Varsóvia.)

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