
A seguir, apresento alguns pontos que explicam por que empresas familiares resistem à transição para o modelo de famílias empresárias. Observa-se que, durante esse processo de migração, diversas questões surgem como obstáculos a essa transformação — que é essencial para garantir a segurança e a perenidade das famílias, das empresas e do patrimônio.
Vamos destacar quatro dessas questões no artigo de hoje.
1. Apego excessivo do fundador ao negócio
O fundador, além de carregar o já conhecido “pacto com a imortalidade” — tema sobre o qual já tratei em artigos anteriores —, frequentemente não consegue se desvincular da empresa que criou e com a qual convive, muitas vezes, de forma intensa e contínua. Esse apego nem sempre se deve apenas ao desejo de perpetuar o negócio, mas também à necessidade pessoal de se manter ativo, criativo e produtivo. Embora essa busca por vitalidade seja compreensível e até saudável, ela pode se tornar um grande obstáculo, especialmente quando o apego se torna excessivo e impede a evolução necessária.
2. Medo das mudanças e seus impactos nas dinâmicas familiares e empresariais
Esse medo afeta todos os envolvidos no processo. Do ponto de vista do sucedido, a transição representa uma mudança profunda — pessoal, emocional, existencial e, naturalmente, profissional. O novo assusta, e isso gera resistência. O sucessor, por sua vez, também enfrenta desconfortos: terá que sair da sua zona de conforto, será cobrado, precisará aprender, estudar, entregar resultados e se profissionalizar. Essa necessidade de transformação assusta ambos os protagonistas e contribui para a resistência ao processo de se tornar uma família empresária.
3. Falta de interesse real pelo aprendizado necessário
Esse ponto decorre, em parte, do anterior. Não é possível conduzir essa transição ignorando as ferramentas e os conhecimentos contemporâneos — como a matriz de governança, os órgãos sociais, os conselhos de família e de administração, as assembleias, entre outros. É essencial compreender os números e balanços da empresa, interpretar processos, tomar decisões embasadas e desenvolver habilidades de liderança. No entanto, muitas vezes há uma clara falta de interesse ou de esforço para adquirir esse conhecimento, o que limita o avanço.
4. Visão equivocada de que governança é burocracia e só se aplica a grandes corporações
Essa é uma visão míope que também gera resistência. Muitos acreditam que uma estrutura de governança é sofisticada demais para sua realidade e só faria sentido em grandes empresas. No entanto, esse é um equívoco: a necessidade de governança é válida e aplicável a qualquer empresa familiar que deseje se tornar uma família empresária — independentemente do seu porte.
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