O PL decidiu recorrer a uma manobra regimental no mínimo questionável para proteger o deputado Eduardo Bolsonaro da possibilidade de perder o mandato por excesso de faltas. Mesmo vivendo nos Estados Unidos desde fevereiro, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro foi escolhido pelo partido para assumir a liderança da Minoria na Câmara, numa articulação que tem como objetivo garantir que suas ausências sejam justificadas e, assim, evitar processos de cassação. A operação revela mais uma vez como a política brasileira se sustenta em acordos de bastidores, corporativismo e atalhos jurídicos que minam a seriedade das instituições.
A decisão foi comunicada ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e se apoia em um ato da Mesa Diretora de 2015, editado à época por Eduardo Cunha, que garante aos líderes partidários uma espécie de salvo-conduto em relação à obrigatoriedade de presença em sessões. Na prática, Eduardo Bolsonaro, mesmo ausente do país e sem participação ativa nas votações, passa a ser blindado por uma regra que deveria servir ao funcionamento da Casa e não à proteção individual de parlamentares.
A substituição foi articulada com a renúncia da deputada Carol de Toni (PL-SC) ao posto de líder da Minoria, abrindo espaço para Eduardo assumisse o cargo. O movimento, no entanto, não é apenas um gesto interno de reorganização, mas um retrato de como partidos usam brechas regimentais para proteger interesses próprios, transformando funções estratégicas em instrumentos de conveniência.
O episódio reforça a cultura do corporativismo e da malandragem política, em que cargos e decisões deixam de atender ao interesse público para servir como escudo de parlamentares influentes. Ao mesmo tempo, expõe o distanciamento entre representantes e representados: enquanto os eleitores esperam que seus deputados estejam presentes e atuantes em Brasília, fazendo jus ao seus polpudos salários, Eduardo Bolsonaro exerce seu mandato a distância, em solo estrangeiro, sem enfrentar as consequências previstas pela legislação.
O caso se soma a uma longa tradição de expedientes que desmoralizam a política nacional, em que o jogo de bastidores se sobrepõe ao respeito às regras e à transparência. Em vez de fortalecer a confiança na democracia, decisões como a do PL apenas alimentam o descrédito, reforçando a percepção de que, no Brasil, a política continua sendo conduzida por arranjos internos, privilégios e estratégias de autoproteção, em detrimento da seriedade e da responsabilidade pública.
Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
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