Na antiga Polônia, na estação ferroviária de uma aldeia de população quase toda judaica, um viajante descansava na cabine enquanto aguardava a partida do trem.
Acostumado a fazer a mesma viagem, com os olhos fechados e cansado após uma noite mal dormida, torcia para que o vagão continuasse vazio, mas seu cochilo foi interrompido por uma voz que disse:
– “Sholem Aleichem”. (¹)
Em vez de responder com o tradicional “Aleichem Sholem”, ele disse, demonstrando claramente que se sentia importunado pela provável companhia:
– “Ouça bem, meu amigo. Sou de Bialystoc e estou indo para Varsóvia. Tenho um atacado de cereais, mas não se impressione, o negócio é pequeno. O meu sobrenome é Cohen e meu nome é Moishe. Tenho um filho que está quase em idade de Bar-Mitzvah (²), e duas filhas. Ambas são bonitas, uma é casada e a outra noiva. Não fumo, não bebo e não gosto de política. Acho que não esqueci coisa alguma, mas se esqueci, não faça cerimônia e pergunte agora, porque estou muito cansado e quero dormir”.
A viagem até Varsóvia foi silenciosa.
(¹) “A Paz Esteja Convosco” – saudação judaica à qual se responde “Convosco Esteja a Paz”. Os Árabes usam uma expressão muito parecida.
(²) “Bar-Mitzvah” – é a cerimônia judaica que registra a transição de um menino para a vida adulta na comunidade religiosa. Ela ocorre quando o menino completa 13 anos, marcando o momento em que ele se torna responsável por seus próprios atos perante a lei judaica. Na cerimônia o jovem é chamado para ler a Torá na sinagoga, geralmente no primeiro Shabbat após seu 13º aniversário.