A direita brasileira parece ter desenvolvido uma vocação incomparável para ressuscitar adversários. Lula, que até pouco tempo atrás aparecia mal nas pesquisas, sem perspectivas reais de reeleição segundo qualquer instituto, voltou ao centro da cena não pela força de suas virtudes, mas pelos erros em série cometidos por seus opositores. Foram as trapalhadas da direita que devolveram fôlego ao petismo e, no último fim de semana, colocaram novamente a esquerda nas ruas.
Exemplos não faltam. O tarifaço aplicado pelo governo Donald Trump contra o Brasil, fruto das articulações desastradas do deputado Eduardo Bolsonaro na diplomacia paralela que tentou erguer em Washington, representou não apenas um golpe econômico, mas também um vexame internacional.
A PEC da Blindagem, mesmo tendo contado com o apoio de partidos de todas as ideologias, acabou carimbada como uma manobra da direita para enfraquecer a Justiça e proteger políticos, desgastando ainda mais a imagem do Congresso.
E as articulações na Câmara para aprovar uma proposta de anistia que beneficiaria diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro reforçaram a impressão de que o campo conservador não busca reformar o País, mas proteger seus líderes.
Não surpreende, portanto, que a população tenha reagido. A insistência em radicalizações estéreis, em teorias conspiratórias e em ataques às instituições, somada a trapalhadas diplomáticas e legislativas, criou um terreno fértil para a volta de Lula e da esquerda como polos de mobilização.
O efeito rebote foi inevitável: de vilão político descartado, Lula passou a ser visto como alternativa diante da incapacidade de seus adversários de oferecer soluções reais.
Ainda há tempo, porém, para mudar esse rumo. A direita precisa abandonar a retórica vazia e o personalismo que a aprisionam, substituindo o culto a líderes por um projeto de País consistente. Precisa falar de economia com seriedade, sem aventuras diplomáticas; discutir segurança pública sem discursos inflamados; enfrentar desigualdades sem prometer milagres; respeitar as instituições sem ameaçá-las. Só assim poderá reconquistar a confiança que jogou fora.
Se continuar nesse caminho, colecionando trapalhadas como as que marcaram os últimos meses, será apenas o fiador involuntário do retorno da esquerda ao poder.
Se decidir corrigir os erros, pode ainda oferecer ao eleitorado uma alternativa capaz de sobreviver ao barulho das bravatas.
A escolha é clara: ou continua entregando a Lula e ao PT o que eles próprios já não conseguiam conquistar, ou aprende finalmente a construir política em vez de destruir a si mesma.
