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ELIZABETH TITTON CABECA hojesc

O sol

Hoje, de mau humor por causa do frio de inverno, acordei me lembrando do conto dos Irmãos Grimm, ”A formiguinha e a neve” e me sentindo a própria. Para quem não se lembra, aqui vai um pedacinho:

“Certa manhã de inverno uma formiguinha saiu para o seu trabalho diário. Já muito longe à procura de alimento, quando de repente, um floco de neve caiu e prendeu o seu pezinho. Aflita, vendo que não podia se livrar da neve, e iria assim morrer de fome e frio, voltou-se para o Sol e disse:

– “Ó Sol, tu que és tão forte, derrete a neve que prendeu o meu pezinho.

 

"O semeador" - Vincent van Gogh - 1888- Arles - óleo sobre tela medindo 32,5x40,3cm -  créditos: Van Gogh Museu, Amsterdam (Vincent van Gogh Foundation).
“O semeador” – Vincent van Gogh – 1888- Arles – óleo sobre tela medindo 32,5×40,3cm – créditos: Van Gogh Museu, Amsterdam (Vincent van Gogh Foundation).

E o Sol indiferente, nas alturas, falou:

– “Mais forte do que eu é o muro que me tapa.”

Assim segue a história, com a formiguinha pedindo ajuda a todos que lhe eram indicados, sem muito sucesso.

Como vemos, esse mesmo Sol, que não derreteu a neve para a pobre formiguinha, é também aquele sem o qual nós também não viveríamos!

Na pintura, os Impressionistas – um grupo de artistas em busca das sensações provocadas pela luz do sol, entre outros importantes fatores – deveu muito de sua inspiração a esse corpo celeste e aos efeitos visuais por ele causados nas paisagens e, consequentemente, em suas pinturas. Aqui, na ilustração de abertura, podemos observar a obra de Claude Monet (1840-1926), “Impressão, Sol Nascente” (1872), que participou da primeira exposição dos ”Impressionistas”, assim denominados devido à crítica de Louis Leroy, que na ocasião da exposição do novo grupo de artistas, pejorativamente, os descreveu como tal. O também pintor Leroy, teve sua expressão “Impressionismo” aceita pelos artistas, como uma honra, e assim, acabaram ficando, para sempre, nomeados. Aos artistas do grupo, não interessava reproduzir a natureza como ela era e sim captar a sensação, a impressão da cor e da luz que a transformava.

 

"Fonte Apolo" - (também deus grego do Sol)-  Versalhes - Projetada por Jean-Baptiste Tuby - 1668-1671 - reinado de Luís XIV- Foto com direitos autorais de Roberto A.Sanchez.
“Fonte Apolo” – (também deus grego do Sol)- Versalhes – Projetada por Jean-Baptiste Tuby – 1668-1671 – reinado de Luís XIV- Foto com direitos autorais de Roberto A.Sanchez.

Imaginem o mundo sem cor, ou seja, sem luz! Podemos perceber, em outra obra, um olhar bem diferente do de Monet com seu sol nascente. No óleo, intitulado “O Semeador ao Pôr do Sol” (1888), de Van Gogh, percebe-se a ênfase dada ao nosso personagem estelar, como uma grande bola ao fundo da paisagem, colocada no quadrante esquerdo superior da tela, deixando os demais elementos, a figura do semeador e a árvore, que ocupam a maior parte da obra, em baixa definição e cor, na sombra do entardecer. Embora o artista os tenha colocado em primeiro plano, acabam ofuscados pelo brilho da enorme esfera solar.

Os exemplos acima refletem dois momentos do dia, marcados para sempre, pelas mãos, alma, e olhar de grandes artistas, que viveram momentos e experiências muito diferentes, em uma fundamental relação como a nossa estrela maior, o Sol.

"Deus fez Sol, Lua e Estrelas , Quarto dia da Criação" - Bíblia - Direitos autorais -  ursus@zdeneksasek.com
“Deus fez Sol, Lua e Estrelas , Quarto dia da Criação” – Bíblia – Direitos autorais – ursus@zdeneksasek.com

Nas diferentes culturas, em suas mitologias e lendas sobre a criação do mundo, os povos deram grande importância ao nosso grande astro. Hélio, o Deus Sol dos gregos, dava voltas em torno da Terra em seu carro puxado por cavalos de fogo. Na mitologia indígena brasileira, o Sol está, junto com a Lua, na origem da criação do mundo. Nas páginas da Bíblia, é contado que Deus criou o Mundo em seis dias, começando com a separação da luz das trevas. O Sol, a Lua e as Estrelas foram criados no quarto dia e com eles, vieram os dias, as noites e as estações.

É em uma dessas estações, o inverno, que estamos vivemos hoje, esse frio período do ano, assim como aconteceu no nosso conto inicial, que por sinal, também termina nas mãos de Deus, o único dos personagens a quem a formiguinha pediu ajuda e que conseguiu salvá-la do frio, levando-a para seu reino onde não haveria frio, nem fome, ou sequer qualquer sofrimento.

(Ilustração de abertura: “Impressão, nascer do sol”- Oscar-Claude Monet – 1872 – óleo sobre tela medindo 48×63 cm – Museu Marmottan Monet, Paris [Wikipmedia Commons])

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