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FERNANDA GHIGNONE CABECA HOJESC

O que você come pode estar alimentando sua ansiedade

Você já parou para pensar como a vida moderna tem exigido cada vez mais de todos nós? São compromissos profissionais, cobranças pessoais, a busca constante por melhorias, cursos, atualizações, metas… e ainda tentamos ser presentes com quem amamos, cuidar da saúde, da aparência, dar conta de tudo. Até os momentos de lazer, que deveriam ser leves, muitas vezes vêm acompanhados por uma sensação de comparação e cobrança. No meio de tudo isso, a ansiedade vai se instalando aos poucos, sem pedir licença. E quando chega a hora de comer, que deveria ser um momento de pausa e cuidado com o corpo, muitas vezes escolhemos alimentos que agravam ainda mais essa inquietação. O que colocamos no prato pode ter muito mais influência sobre nossas emoções do que imaginamos.

É comum buscar um café para despertar, um chocolate para aliviar o estresse ou um lanche ultraprocessado como “recompensa” por um dia difícil. Alguns hábitos alimentares que, muitas vezes, parecem inofensivos, podem estar contribuindo diretamente para pensamentos acelerados ou para a dificuldade em relaxar.

O café, sempre presente nas nossas rotinas, pode ser um verdadeiro gatilho para crises de ansiedade. A cafeína, além de estar no café, também está em chás pretos e verdes, refrigerantes e energéticos. Seu efeito no corpo estimula a liberação de adrenalina e cortisol, hormônios que em excesso podem causar estresse e ansiedade. Cada organismo responde de uma forma à cafeína. Para algumas pessoas, uma única xícara já é o suficiente para gerar desconforto. E quem já convive com ansiedade costuma perceber rapidamente os sinais: palpitações, nervosismo e uma sensação persistente de alerta, dificultando momentos de descanso e até o sono reparador.

Açúcares presentes em bolos, refrigerantes, doces e até nos chamados “doces saudáveis” ultraprocessados provocam verdadeira bagunça no metabolismo. O pico rápido de glicose gera aquela sensação momentânea de prazer, mas logo depois vem a queda brusca, trazendo junto irritação, cansaço, falta de concentração e uma fome repentina por mais açúcar. Esse desequilíbrio constante afeta a estabilidade emocional, estimula processos inflamatórios e interfere diretamente na produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores que regulam o humor.

O cenário pode piorar com o consumo frequente de ultraprocessados como, embutidos, salgadinhos, fast food, macarrão instantâneo e biscoitos recheados carregados de corantes, conservantes, saborizantes, excesso de sódio, e gorduras hidrogenadas. Estes compostos provocam uma inflamação no organismo, afetando a produção dos neurotransmissores ligados ao equilíbrio emocional.

Entre esses aditivos, um se destaca: o glutamato monossódico, utilizado para realçar o sabor de alimentos industrializados. Ele atua diretamente nos receptores de glutamato do cérebro, neurotransmissor excitatório. Em excesso, o glutamato pode causar uma excitação exagerada das células nervosas, o que gera sintomas como dor de cabeça, palpitações, sudorese e, principalmente, ansiedade. Essa sobrecarga no sistema nervoso contribui para uma sensação constante de agitação mental.

Além disso, o glutamato em excesso pode provocar um desequilíbrio entre o glutamato e o GABA, neurotransmissor responsável por acalmar o cérebro. Quando o glutamato está em alta e o GABA em baixa, é como se o cérebro estivesse constantemente acelerado, dificultando a sensação de relaxamento.

E quando falamos de ansiedade, o álcool também entra nesse ciclo vicioso. Apesar de inicialmente gerar uma sensação de relaxamento e euforia, o álcool compromete a homeostase cerebral, impactando negativamente os neurotransmissores ligados ao humor. O resultado vem no dia seguinte como irritação, queda na produtividade e sintomas ansiosos mais acentuados. Para quem se sente diariamente ansioso, o álcool acaba sendo um agravante disfarçado de alívio momentâneo.

O caminho não é eliminar tudo da rotina, mas sim fazer escolhas mais conscientes. Entender que nossas emoções podem ser moldadas também pelo que comemos, é o primeiro passo para retomar o equilíbrio. Pequenas trocas diárias já fazem a diferença, como substituir o café por chás calmantes de camomila, passiflora ou melissa, reduzir o consumo de açúcar e incluir frutas, sementes e alimentos integrais para garantir energia e equilíbrio metabólico.

Alimentos ricos em triptofano, como banana, abacate, cacau 100% e castanhas, são aliados na produção de serotonina. Já as folhas verdes-escuras, sementes, oleaginosas e leguminosas oferecem magnésio, mineral que ajuda para controlar a agitação mental ao equilibrar neurotransmissores como GABA, reduzir o cortisol e promover o relaxamento do sistema nervoso.

Portanto, se você sente que a ansiedade tem feito parte da sua rotina, olhe para o que está no seu prato. Às vezes, a paz que buscamos não está apenas na mente, mas começa na forma como escolhemos nutrir o nosso corpo e, consequentemente, o nosso cérebro.

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