DESTAQUE DA REDAÇÃO
Pular para o conteúdo


EDMILSON-FABBRI-CABECA-HOJESC

O Direito à Tristeza

Dias atrás saiu na mídia uma noticia que o número de pessoas consumidoras de fluoxetina da cidade de Curitiba, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, seria equivalente ao consumo de meio comprimido por habitante de nossa cidade por mês.

De duas uma, ou estamos muito depressivos, ou a fluoxetina está sendo receitada até para caspa. Eu acho, na verdade, que estão tirando o direito das pessoas à tristeza, num processo de supervalorização da depressão. Quem de nós já não ouviu a expressão –“Hoje estou deprê” , quando ,na verdade , esta apenas triste.

Tristeza é um estado psicológico e fisiológico, tal qual a alegria, ligada obviamente a situações angustiantes que sequestram a felicidade em nome de uma necessidade reflexiva, pertinente ao fator gerador.

Quando Sócrates declarou que a vida não examinada não vale a pena ser vivida, estava defendendo a avaliação pessoal constante, e o esforço para o auto aprimoramento, com vocação mais elevada. Os períodos de tristeza devem ser contemplados sob a ótica da avaliação dos “porquês”.

O crescimento tem que ocorrer seja ele pela via do amor ou da dor , já dizia Buda . A melhor coisa em estar triste é aprender algo… aprender porquê o mundo sacode e o que ele sacode”, segundo T.H.White.

Nitzsche também colaborou com a temática com a máxima “O que não me mata imediatamente me fortalece”. Atravessar períodos de luto faz com que as pessoas reflitam e cresçam, pelo menos deveriam, se assim não o for, estarâo desperdiçando uma situação dolorosa para poderem avançar mais fortalecidos.

Diferente disso, a depressão é um estado patológico de tristeza persistente, incapacitante e sem colaboração para crescimento. Vazio interior deixado pela perda de uma felicidade, de uma felicidade plena, que na sua avaliação está perdida para sempre, lançando-se num abismo infinito.

Esta sim, uma entidade nosológica que requer tratamento, devido à possibilidade de nefastas consequências. Sem sombra de dúvidas, o dado alarmante do consumo de fluoxetina não se dá pela experiência acima que é muito mais limitada do que parece, o que deve estar havendo, provavelmente, é a suposição da doença, sem a sua completa caracterização, levando a uma medicalização, sem uma necessidade de estabelecimento de diagnóstico.

Como preconizou Lou Marinoff, estamos precisando de mais Platão e menos Prozac, no seu livro de mesmo nome em 2005, refletindo o movimento iniciado em 1981 na Alemanha com Gerd Achenbach, cuja ideia é oferecer um pouco mais de filosofia para a vida das pessoas, que parecem, a cada dia ,carecerem de achar o sentido maior à suas existências.

Retirar a filosofia de seu castelo acadêmico e devolvê-la ao dia a dia para que as pessoas possam beber dos ensinamentos de nossos mestres pensadores, poderia ser uma boa iniciativa para por fim a tantas duvidas existenciais.

Fica aqui este alerta para que tenhamos direito à tristeza, pois do contrário, no ritmo mostrado por esse levantamento da Secretaria, em breve, tristeza será um caso de saúde pública ,e a fluoxetina colocada nos reservatórios da Sanepar para tratamento em massa.

Leia outras colunas do Edmilson Fabbri aqui.