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ERNANI BUCHMANN CABECA hojesc

O botão

Gênio, mas gênio de verdade, foi o sujeito que inventou o botão. Não me refiro a apertar um botão, que esses são de outra estirpe. Falo dos botões de roupa, os que encaixamos nas casas das calças, blusas, camisas e casacos. São objetos fundamentais para uma digna sobrevivência social.

A falta de um botão, se for do tipo estratégico, é capaz de causar constrangimentos de extrema gravidade. Esse tipo é o que segura as calças, por exemplo. Se o sujeito não usa cinto ou suspensórios, incorre em perigo iminente. Caiu o botão, caíram as calças. E com a queda, foi-se o respeito dos outros.

Estratégicos são também os das blusas. Para as mulheres, se um deles salta, podem saltar juntos alguns atributos físicos. Resta correr ao banheiro mais próximo, implorar por agulha e fio. Desde que o botão não tenha corrido pelo chão e se enfiado em um ralo.

Botões são capazes de pregar peças variadas. Lembro da história de um funcionário muito distraído da Copel. Certo dia foi convocado para uma reunião com o presidente da companhia. Enquanto esperava, notou que os botões do peito da camisa eram do mesmo tamanho dos do punho. Mas será que a casa do punho aceitaria um botão da camisa? Resolveu testar. Desabotoou um da camisa e tratou de prendê-lo no punho. No mesmo instante a porta da sala abriu e o presidente veio com a mão estendida. O funcionário trapalhão foi obrigado a também estender o braço, com o que a camisa rasgou de cima a baixo. Adeus, reunião.

No Nordeste, abotoar é substituído por atacar. Também serve, já que a casa deve comportar tal ataque. A expressão “seu botão está desatacado” não é entendida por aqui, embora seja comum por lá.

Fico imaginando como seriam as vestimentas do ser humano sem a invenção dos botões. Seríamos obrigados a usar túnicas integrais, dessas de meter a cabeça pela gola? Com mangas ou sem?

A ausência dos botões inviabilizaria o uso de paletós, a não ser que fossem usados como se fossem asas, esvoaçantes pelos espaços, tais como as representações de anjos.

O inventor do botão tem o meu perene respeito. Está para nascer alguém tão sabido.

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