DESTAQUE DA REDAÇÃO
Pular para o conteúdo


FERNANDA GHIGNONE CABECA HOJESC

Nutrir corpo, alma e mente

Quando falamos em nutrição, é comum que a mente nos leve para o prato, aos alimentos que escolhemos, às calorias que ingerimos ou à busca constante por uma dieta perfeita. Mas será que a nutrição se resume ao que comemos? E se o verbo “nutrir” se estendesse para além do corpo físico, alcançando a mente e o espírito? Nutrir é mais do que comer. É um gesto de cuidado que vai além do físico. É acolher as emoções, a mente e aquilo que nos move, é um ato de cuidado consigo e com o outro.

Nossa saúde, cada vez mais, vem sendo compreendida como integral. O corpo, a mente e o espírito não funcionam de forma separada. O que sentimos interfere no que comemos, e o que comemos interfere em como pensamos e sentimos. Estudos recentes da neurociência têm mostrado que emoções crônicas como estresse, medo ou tristeza alteram a produção de neurotransmissores, influenciam o funcionamento do intestino e modulam o sistema imunológico.

Por isso, ao falarmos em reeducação alimentar, não estamos tratando apenas de trocar alimentos ou reduzir calorias. Estamos falando de transformação, de reconexão e de escutar o corpo, percebendo os sinais e respeitando os limites. Quem busca mudar sua alimentação, na verdade, está iniciando um movimento interno de reencontro com a própria vida. Práticas como o comer consciente nos ensinam a estar presentes nas refeições, a saborear com atenção, a viver o momento. Nutrir-se também é silenciar o externo e olhar para dentro, se conectar consigo mesmo.

Esse olhar nos faz questionar com o que temos alimentado nossa mente. Quais pensamentos temos cultivado todos os dias? Assim como o corpo, a mente precisa de pausas, silêncio, boas leituras, risos e afeto. Também adoece quando nutrida com excesso de críticas, comparações e pressões. Para cuidar da mente precisamos de gestos simples, ou seja, bons pensamentos, um tempo longe das redes sociais, um contato mais direto com a natureza ou com quem nos faz bem.

Na mesma linha, o espírito também precisa ser alimentado. E não é necessariamente sobre religião, mas de conexão. Com algo maior, com a natureza, com a nossa própria essência. Muitas vezes, estamos buscando sentido e procuramos saciedade em comida, compras ou distrações, mas só entendemos o que precisamos, quando nos permitimos sentir, acolher, silenciar. Nutrir o espírito é reconhecer que somos mais do que um corpo.

Quando ampliamos o significado de nutrição, termos como “nutrição comportamental”, “alimentação intuitiva” e “psiconutrição” nos mostram que comer bem é também viver bem. Não há saúde verdadeira sem equilíbrio emocional, sem relações saudáveis, sem um propósito que nos impulsione. Um corpo não se nutre quando a mente está exausta e o espírito desconectado.

Portanto, que possamos dar um novo significado ao verbo nutrir. Que ele vá além do prato e se estenda ao modo como vivemos, sentimos e nos conectamos. Nutrir é cultivar boas conversas, descansar, fortalecer os vínculos e ter mais presença. Cuidar do corpo é importante, mas só faz sentido quando vem junto do cuidado com o que somos de forma integral mente e espírito. E nesse caminho por uma vida mais saudável, é fundamental olhar para dentro, parar um pouco e se ouvir de verdade. É nesse espaço de presença com a gente mesmo que a verdadeira nutrição começa.

Leia mais colunas da Fernanda Ghignone aqui