Você já ouviu falar no maio verde? Esse mês é voltado à conscientização sobre a Doença Celíaca, uma condição autoimune, desencadeada pelo glúten, proteína presente no trigo, na cevada e no centeio, que pode comprometer seriamente a saúde intestinal e geral de quem tem a doença. Embora seja mais comum do que se imagina, muitas pessoas ainda convivem com sintomas sem saber que são celíacas, já que a doença nem sempre se manifesta de forma clássica ou é prontamente diagnosticada.
A Doença Celíaca ocorre quando o sistema imunológico reage ao glúten, provocando inflamação e danos nas vilosidades do intestino delgado, prejudicando a absorção de nutrientes. Os sintomas podem variar muito: algumas pessoas apresentam desconfortos gastrointestinais como inchaço, diarreia, dor abdominal ou perda de peso, enquanto outras desenvolvem manifestações, como anemia, alterações de humor, fadiga crônica, osteopenia, infertilidade ou irregularidades menstruais. Há ainda os assintomáticos, cujo diagnóstico só acontece após exames de rotina ou investigação de doenças associadas.
Diante dessa variedade de manifestações, o diagnóstico da doença é feito por um médico, geralmente a partir da suspeita clínica. Inicia-se com exames sorológicos, e confirma-se com a biópsia do intestino delgado. Importante destacar que os exames devem ser realizados enquanto o glúten ainda faz parte da alimentação, pois sua retirada pode comprometer os resultados. Após a confirmação, o único tratamento é a exclusão total e definitiva do glúten da dieta.
Muitas vezes, a Doença Celíaca é confundida com a sensibilidade ao glúten não celíaca. Apesar de ambas provocarem sintomas semelhantes, como dor abdominal e estufamento, a diferença está na causa. A Doença Celíaca é autoimune e causa lesões na mucosa intestinal, enquanto a sensibilidade não causa lesão nem danos detectáveis no intestino delgado. Além disso, existe a alergia ao trigo, que envolve resposta alérgica imediata e também exige cuidados distintos e sérios. Para pessoas com sensibilidade não celíaca, a retirada do glúten pode ser parcial e adaptável, diferente da rigidez exigida para o celíaco, que precisa evitar até mesmo traços da proteína na dieta. Além da exclusão do glúten, é comum que o acompanhamento nutricional inclua a correção de deficiências causadas pela má absorção intestinal, como falta de ferro, vitaminas do complexo B, entre outras.
Do ponto de vista alimentar, o desafio pode ser grande no início, mas a boa notícia é que há uma ampla variedade de alimentos naturalmente sem glúten que permitem compor cardápios equilibrados, nutritivos e saborosos. Arroz, milho, batata, quinoa, amaranto, trigo sarraceno e leguminosas como feijão, lentilha e grão-de-bico são ótimas opções para quem precisa excluir o glúten da dieta. Além disso, farinhas como as de arroz, amêndoas, mandioca, polvilho e fécula de batata ajudam a adaptar receitas com facilidade, substituindo o trigo sem comprometer o sabor ou a textura. O ideal é sempre priorizar alimentos frescos e integrais, evitando o consumo excessivo de produtos industrializados sem glúten, que, apesar de práticos, costumam ser pobres em fibras e ricos em aditivos.
Enquanto isso, a ciência continua avançando na busca por alternativas terapêuticas que possam trazer mais liberdade e segurança às pessoas celíacas. Estão em estudo enzimas que auxiliam na digestão do glúten, estratégias para modular a resposta do sistema imunológico e até vacinas. No entanto, apesar dos avanços, nenhuma dessas abordagens se mostrou, até agora, eficaz o bastante para substituir a exclusão total do glúten da alimentação.
Por isso, neste maio verde, fica a reflexão de prestar atenção aos sinais do corpo e buscar por orientação profissional diante de sintomas persistentes. Quando diagnosticada e tratada de forma adequada, a Doença Celíaca permite uma vida com saúde, qualidade e prazer à mesa, mesmo sem glúten no prato.
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