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GERSON GUELLMANN CABECA hojesc

Lula, Bolsonaro ou Dom Pedro II?

Sempre tive simpatia pela monarquia constitucional e gosto muito das séries de TV sobre o tema. Não estou falando daqueles tiranos e déspotas ao estilo de Nero, que mandou matar a própria mãe e a esposa, nem do Ivan IV (esse matou o filho), mas sim das figuras que, com equilíbrio e senso de dever público, trouxeram estabilidade e progresso a seus países.

É inevitável pensar nisso com mais intensidade no cenário atual, quando o Brasil parece preso a um ciclo vicioso entre dois polos políticos antagônicos, que além de não acrescentar nada causam atraso ao país, gerando rancor, promessas não cumpridas e disputas intermináveis. É como se estivéssemos condenados a reviver o mesmo roteiro, alternando os protagonistas, mas sem nunca sair do lugar.

Escrevi sobre isso aqui no HojePR, em 15/02/2022, com o título “Nem Bolsonarismo, nem Lulopetismo: Brasileirismo”, que você poderá ler clicando no link que vou deixar abaixo.

É aí que a figura de Dom Pedro II, nosso último imperador, aparece — não como saudade vazia do passado, mas como contraste vivo com a mediocridade da liderança atual. Um homem culto, ético, progressista, que via na educação, na ciência e no serviço público os caminhos para um país melhor.

É claro que não dá para ter a ilusão de que a monarquia hoje seria possível no Brasil. Mas, às vezes, penso que seria menos pior do que a realidade que nos cerca. Admito: é um daqueles casos em que a gente sente “saudade do que não viveu”.

Por isso, reuni aqui uma lista de fatos sobre a vida e o legado de Dom Pedro II. Não para transformá-lo em santo, mas para lembrar que, sim, o Brasil já foi liderado por alguém que estava à frente do seu tempo – e mostrar como ele faz falta:

Abolição e Justiça Social

– Dom Pedro II tentou, desde 1848, convencer o Parlamento a abolir a escravidão — uma luta que travou por 40 anos contra os poderosos fazendeiros.

– A família imperial não possuía escravizados. Nos imóveis da família, pessoas negras eram libertas e contratadas como trabalhadoras assalariadas.

– Na casa de veraneio em Petrópolis, a Princesa Isabel chegou a esconder escravizados fugidos; ela arrecadava recursos para libertá-los.

– A Imperatriz Teresa Cristina doou todas as suas joias pessoais à causa abolicionista, em 1871, deixando a elite furiosa.

– A Lei do Ventre Livre foi assinada nesse mesmo ano por sua filha, a Princesa Isabel.

– O bairro do Leblon, hoje um dos mais caros do Rio, foi um quilombo sustentado pela princesa, onde se cultivavam camélias — flor-símbolo da abolição.

Educação e Cultura

– Dom Pedro II era poliglota, amante das artes e apaixonado pelo saber. Além das línguas europeias, estudou árabe, sânscrito, tupi e hebraico — este último por interesse na cultura e nos textos bíblicos em sua forma original.

– Em sua histórica viagem ao Oriente Médio, em 1876, visitou Jerusalém, o Muro das Lamentações e outras cidades da região, registrando em seus diários o impacto que aqueles lugares causaram em sua alma e intelecto.

– Apoiou escavações arqueológicas e trocou correspondência com estudiosos do judaísmo, revelando respeito singular pelas raízes do povo judeu e da fé monoteísta.

– Falava 23 idiomas, sendo fluente em 17.

– Responsável pela primeira tradução de As Mil e Uma Noites do árabe arcaico para o português brasileiro.

– Dedicava metade de sua dotação anual a instituições de caridade, à educação, às ciências e às artes.

– Apoiou Carlos Gomes, compositor de O Guarani, até sua consagração internacional.

– Quando subiu ao trono, em 1840, 92% da população era analfabeta. Em 1889, esse número caiu para 56%.

– O Colégio Pedro II era o modelo da educação pública da época.

– O Brasil foi pioneiro no ensino especial para pessoas com deficiência auditiva e visual na América Latina.

Postura Ética e Simplicidade

– A imperatriz cozinhava as refeições da família com a ajuda de uma única empregada, paga com o salário do imperador.

– Dom Pedro II era avesso ao luxo: usava roupas simples e não admitia tirar dinheiro público para reformar palácios.

– Foi alvo de charges e zombarias na imprensa, mas jamais cogitou censura. Dizia: “Imprensa se combate com imprensa.”

– Mandou extinguir os Dragões da Independência por considerar a guarda um desperdício de recursos.

Reconhecimento Internacional

– Recebeu diversos títulos honorários, inclusive de universidades europeias de prestígio.

– Em 1876 e depois em 1887, Cambridge concedeu-lhe honrarias por sua dedicação ao conhecimento, especialmente nas áreas de Ciência Natural, Botânica e Astronomia.

– Durante visita à Inglaterra, foi homenageado como Doutor Honoris Causa em Botânica e Astronomia.Dom Pedro II recebeu diversos títulos honorários, inclusive de universidades europeias de prestígio.

Brasil no Segundo Reinado

– Entre 1860 e 1889, o crescimento médio do PIB foi de 8,81% ao ano.

– A inflação anual média foi de 1,08%.

– A moeda brasileira equivalia ao dólar e à libra esterlina.

– O Brasil tinha a 2ª maior marinha do mundo, atrás apenas da Inglaterra.

– Era o maior construtor de ferrovias no mundo em 1880, com mais de 26 mil km.

– Havia apenas 14 impostos. Hoje, são 98.

– O salário médio de professores estaduais, em valores atualizados, era de R$ 8.958,00.

– O Rio de Janeiro era conhecido como “Cidade dos Pianos”, dado o número de instrumentos nos lares e comércios.

Após a proclamação da República, Dom Pedro II foi exilado na França, onde viveu modestamente em um hotel, sustentado por parcos recursos financeiros providos por amigos.

Não há como não mencionar o contraste com a pompa e a opulência de muitos dos nossos governantes atuais, que, em suas viagens, fazem exigências de luxo totalmente incompatíveis com a realidade do povo brasileiro.

Quando Dom Pedro II faleceu, no quarto onde vivia foi encontrado um travesseiro — ou, segundo algumas publicações, uma pequena urna — com terra de todas as províncias brasileiras e um bilhete pedindo que fosse colocada junto ao seu caixão.

Levado para Portugal, o corpo do Imperador repousa no Panteão dos Braganças.

O que será que ele pensaria se visse o Brasil de hoje?

Talvez dissesse o mesmo que muitos de nós: que ele faz uma falta danada.

Meu artigo sobre o Bolsonarismo e o Lulopetismo pode ser lido aqui.

Leia outras colunas do Gerson Guelmann aqui.