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MARCUS VIDAL CABECA hojesc

Kiss e o hard rock setentista

Com sua consagração na década de 1970, o Kiss lançou seu sexto álbum, Love Gun, em junho de 1977. Encerrando uma trilogia de álbuns pesados, (Destroyer e Rock And Roll Over), O álbum mostra a banda afinada, pesada e com todos os membros fazendo os vocais principais. Gene Simmons (baixo e vocais), Paul Stanley (guitarra e vocais), Ace Frehley (guitarra e vocais) e Peter Criss (bateria e vocais) apresentam uma obra das mais vigorosas da década. A produção é de Eddie Kramer e da própria banda e capa magistral de Ken Kelley.

 

kiss love gun

 

Paul Stanley abre o álbum com uma das faixas mais energéticas do catálogo do KISS, I Stole Your Love. O riff inicial é um dos mais marcantes da carreira da banda, combinando agressividade com uma melodia arrasadora. Os vocais de Stanley são poderosos e cheios de atitude, enquanto o solo de Ace Frehley, embora curto, é extremamente eficaz. A canção tem uma estrutura simples mas eficiente, mostrando a fórmula clássica da banda no seu melhor.
Curiosamente, apesar de ser uma das melhores aberturas de álbuns da banda, nunca recebeu o mesmo reconhecimento que outros hits. “I remember the day that we met, I needed someone, you needed someone too, yeah, Spend time takin’ all you could get, Givin’ yourself was one thing you never could do, You played with my heart, played with my head, I got to laugh when I think of the things you said.”

 

 

Gene Simmons entrega aqui uma de suas composições mais polêmicas, Christine Sixteen. A letra, que fala sobre a atração por uma garota de dezesseis anos, certamente não envelheceu bem, mas musicalmente a faixa é irresistível. O piano escondido na mixagem adiciona uma camada interessante ao som, enquanto o refrão é um dos mais grudentos do álbum. A ponte com o falsete de Simmons é memorável. Esta faixa mostra a habilidade de Gene em criar músicas que, independentemente do conteúdo lírico, possuem um apelo musical inegável.

Outra composição de Gene Simmons que segue a linha de letras provocantes e cheias de duplo sentido é Got Love For Sale. Musicalmente, é uma das faixas mais diretas do álbum, com um groove pesado e um riff simples mas eficaz. O baixo de Gene é proeminente nesta faixa, dando uma base sólida para a guitarra de Frehley. Embora não seja tão complexa quanto outras canções do álbum, cumpre seu papel de manter a energia alta e representar o lado mais hedonista da banda.

Marco histórico na carreira do KISS, Shock Me é a primeira música com vocais de Ace Frehley. A faixa foi inspirada em um incidente real onde Ace levou um choque elétrico no palco. Musicalmente, é uma das melhores do álbum, com um riff pesado e um solo que se tornaria um dos mais famosos de Frehley. A voz crua e sem adornos de Ace combina perfeitamente com o tom da música. Marcou o início da maior participação criativa de Ace na banda e mostra porque ele era tão amado pelos fãs. “Shock me, make me feel better, Shock me, put on your black leather, Shock me, we can come together.”

 

 

Em Tomorrow And Tonight, Paul Stanley oferece aqui uma canção mais acessível e comercial, com um refrão extremamente eficaz. A faixa tem uma vibe mais positiva e otimista em comparação com outras do álbum, quase uma canção de arena rock antes do termo se popularizar. Embora não seja tão complexa musicalmente, Tem um charme inegável e mostra a versatilidade de Stanley como compositor. A produção limpa e os vocais brilhantes fazem desta uma faixa que poderia facilmente ter sido um single.

Love Gun, a faixa-título é um dos maiores clássicos da banda. O riff inicial é imediatamente reconhecível e a letra é cheia de insinuações. Paul Stanley está no seu melhor aqui, tanto nos vocais quanto na performance geral. O solo de Ace Frehley, com seu uso característico de wah-wah, é uma aula de como criar um solo memorável sem ser excessivamente técnico. A ponte com os vocais em uníssono é particularmente poderosa. “No place for hiding, baby, No place to run, You pull the trigger of my, Love gun (love gun), Love gun.”

A única contribuição de Peter Criss no álbum, Hooligan, é também considerada por muitos como o ponto fraco do disco. Com uma batida simples e uma estrutura básica, tenta capturar o espírito do rock and roll antigo, mas acaba soando deslocada no contexto do álbum. Os vocais ásperos de Criss têm seu charme, mas a música como um todo não consegue manter o mesmo nível de qualidade das faixas anteriores.

Gene Simmons mergulha de cabeça em seu personagem “monstro” em Almost Human, sombria e pesada. A letra é uma das mais criativas do álbum, e a performance vocal de Gene é cheia de personalidade. Musicalmente, a faixa se destaca pelo riff pesado e pela atmosfera única que cria. Mostra o lado mais teatral da banda e prova que Gene podia ser um compositor extremamente criativo quando queria. A faixa é uma das mais subestimadas do álbum e merece mais reconhecimento.

Plaster Caster é outra composição de Gene Simmons com letras provocantes, desta vez fazendo referência à Cynthia Plaster Caster, famosa por criar moldes de genitais de roqueiros. Musicalmente, a faixa tem um groove estonteante e um riff que gruda na cabeça. A performance da banda é sólida, com destaque para o baixo de Gene e a guitarra de Ace. Pode não ser a canção mais profunda do álbum, mas é divertida e representa bem o lado mais descontraído da banda.

 

 

O álbum fecha com este cover da banda The Crystals, Then She Kissed Me. A versão do KISS é competente, mas soa completamente deslocada no contexto do álbum. A produção limpa e os vocais harmonizados são bem executados, mas a faixa não tem a mesma energia e atitude do resto do álbum. Parece uma tentativa desajeitada de alcançar as paradas pop, e acaba sendo a faixa mais esquecível do álbum. Uma rara decisão questionável em um álbum que é, no geral, extremamente coeso.

Love Gun é um álbum essencial para qualquer fã de KISS ou de hard rock clássico. Apesar de algumas faixas mais fracas, contém alguns dos melhores momentos da carreira da banda. A energia crua, os riffs memoráveis e as performances carismáticas dos membros fazem deste um dos álbuns mais importantes da era clássica do KISS. Quando está no seu melhor, a banda mostra porque se tornou uma das maiores influências do hard rock. Do rock’n’roll. Do bom e velho rock’n’roll.

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