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SILVIO LOHMANN CABECA hojesc

Homens em conflito por elementos de poder e cobiça

Difícil acreditar que a taxação imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros seja apenas uma medida ancorada em preferências políticas e aderência ideológica. É evidente que esse embate envolve questões econômicas mais amplas — entre elas, a proposta de criação de uma nova moeda para o comércio global, em substituição ao dólar. Lateralmente, mas não menos importante, está a cobiça por minerais críticos – as terras raras – para o progresso de diversas tecnologias.

Esse grupo de 17 elementos com propriedades magnéticas e de condutividade já permitiu avanços significativos na miniaturização de eletrônicos, como celulares e laptops, e no ganho de eficiência em arquiteturas sustentáveis, como turbinas eólicas, painéis solares e também veículos elétricos. Segundo a OTAN, 12 desses minerais têm papel crescente na indústria militar.

Essa parcela das terras raras já é considerada essencial para a fabricação de armamentos de última geração, incluindo mísseis e caças. Nesse contexto, especialistas avaliam que a tensão comercial imposta pela Casa Branca a diversas nações — e que agora respinga no Brasil — envolve poder e controle sobre insumos que estão se tornando vitais para a construção de arsenais e para a segurança mundial.

De acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o Brasil é o segundo país com a maior reserva de terras raras no mundo, com 21 milhões de toneladas. Apenas a China está à frente, com capacidade de explorar até 44 milhões de toneladas. Embora não sejam escassos, esses elementos são de difícil extração, o que concentra o interesse estratégico de potências globais.

H₂V das Arábias
A Arábia Saudita quer se tornar um player global na produção de hidrogênio verde — e, sim, é verdade esse bilhete. Por lá, está em implantação o complexo Neom, com capacidade de 2,2 GW, e os sauditas deram início a um segundo projeto: o Yanbu Green Hydrogen Hub, com previsão de conclusão até 2030 e o dobro da capacidade da primeira planta. Yanbu deverá ser a maior instalação do mundo para produção de H₂V e exportação de amônia verde. A iniciativa é resultado de uma parceria entre a empresa local ACWA Power e a alemã EnBW.

Nova térmica
A maior usina termelétrica a gás do Brasil foi inaugurada nesta semana e deve acrescentar 1,7 GW ao sistema elétrico nacional. A planta foi construída no Porto do Açu, no norte do estado do Rio de Janeiro, e pertence ao consórcio Gás Natural Açu S.A. (GNA) — uma joint venture entre Prumo Logística, BP, Siemens Energy, Siemens AG e SPIC Brasil. Essa é a segunda unidade instalada no local, aproveitando a logística favorável para o recebimento de combustível. A primeira termelétrica já está em operação desde 2021, com capacidade de 1,3 GW. Juntas, as duas unidades têm potencial para abastecer quase 14 milhões de residências. Parte da operação poderá ser realizada com uso de hidrogênio.

Big energia
As big techs seguem sedentas por energia – prioritariamente renovável – para alimentar seus datacenters de inteligência artificial. Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) projeta que, até 2030, o mundo precisará de US$ 1,8 trilhão para suprir o crescimento da demanda energética impulsionada pelas novas plataformas de processamento de dados. A Meta anunciou que apenas neste ano serão adicionados quase 10 GW de energia limpa às suas operações. A empresa confirmou a compra de 100% da geração de um parque solar em construção no Texas, com capacidade de 600 MW. O projeto, com investimento de US$ 900 milhões, deve entrar em operação em 2027.

Ar quente
A Agência Internacional de Energia (IEA) estima que o consumo de energia para o uso de condicionadores de ar crescerá quase 4% ao ano até 2035. Hoje, cerca de 3,5 bilhões de pessoas vivem em regiões com altas temperaturas, mas apenas 15% delas têm acesso a aparelhos de ar-condicionado. Com os efeitos crescentes da mudança climática, esse percentual deve aumentar, e a IEA alerta: além de garantir o suprimento de energia, será necessário investir em aparelhos mais eficientes e em edifícios com isolamento térmico adequado.

Glossário ESG
Para tentar popularizar — ou ao menos explicar — um dialeto normalmente restrito a especialistas, a Frente Parlamentar ESG na Prática (FPESG), criada no ano passado pelo Congresso Nacional, lançou o Glossário ESG Legislativo. Segundo o site Migalhas, a publicação reúne 50 verbetes e explica, com definições conceituais e práticas, o significado de expressões como “transição ecológica”, “justiça intergeracional”, “taxonomia sustentável”, “finanças sustentáveis” e “licenciamento social e ambiental ampliado”. A iniciativa teve apoio do Instituto Global ESG e do Movimento Interinstitucional ESG na Prática.

Fim do fedor
O Tribunal de Justiça da Galícia, na Espanha, condenou autoridades nacionais e regionais por violação dos direitos humanos. A decisão resulta de uma ação movida por moradores da região de A Lamia contra a produção intensiva de suínos. A argumentação é de que a má gestão da poluição provocada por décadas de criação animal tornou a vida na comunidade “inviável”. A sentença obriga os gestores públicos a adotarem imediatamente as medidas necessárias para garantir o fim dos odores e da degradação ambiental de um reservatório de água que abastece a região.

Foto: Daniel Lloyd Blunk-Fernández/Unsplash

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