Uma amiga, chegando aos 50 anos, reclama que sente dores nas articulações e nos ossos. Pergunta se isso também acontece comigo. Elementar, minha cara Charly. É a conta que pagamos pela idade.
Problema maior é que o pedágio vai aumentando. Ao contrário dos ingressos e vagas de estacionamento, que se tornam mais baratos e acessíveis para pessoas em idades provectas, o preço a pagar cresce quanto mais velho for o indivíduo. Há tempos encontrei um juiz de Direito, já passado em muito dos 80. Perguntei como estava. A resposta foi suscinta:
– Dói tudo.
Doem os úmeros e os rádios, as fíbulas e as omoplatas. A cabeça também dói, essa por excesso de preocupações com a noite e o dia seguinte: será que vou conseguir dormir? Será que a perna vai doer? Será que ainda tenho Neosaldina? Vai aumentar em quanto o preço dos remédios?
Quando se dá conta, já são 4h de manhã e, do sono, nada. Nem Zolpiden resolve a maldita insônia.
A rotina de uma pessoa de muita idade – digamos, a quinta – está sujeita a todo tipo de surpresa desagradável. Quedas, por exemplo. Cair é parte do processo de envelhecer e pode ser fatal. Há gradações, claro. Quedas no banheiro tendem a ser menos dramáticas do que as quedas de escada. Mas até um mero tropeção pode causar sérias complicações. Conheço pessoas que tropeçaram, bateram o queixo e fraturaram a mandíbula. Trinta dias com uma faixa no rosto para segurar a ossatura no lugar. Nada agradável de usar – ou de ser visto.
Há ossos de estimação para serem fraturados. É o caso do fêmur, useiro e vezeiro nesse mister. E tome cirurgia, implantação de prótese a apitar na fiscalização dos aeroportos até o fim da vida. Por favor, tire os sapatos, cintos, vire para cá, agora de costas. Você se sente quase nu.
Outra presença permanente são as dores nas costas. Hérnias de disco, bicos de papagaio e suas consequências, entre as quais a postura torta. Com elas, vem as sugestões. Seu especialista prescreve GPG (ginástica postural global, para quem não tem idade suficiente para saber), pilates ou ioga. E todo mundo conhece um massoterapeuta, nome chique para o velho e bom massagista, que vai resolver o problema. Nem é necessário falar dos problemas nas mãos, a detestável L-E-R, e inflamações nos tendões.
Há recompensas, claro. Por exemplo, descobre-se alguns ossos que eram desconhecidos. O senhor está com uma inflamação no hipocôndrio, uma epicondilite. Vai tomar anti-inflamatórios, fazer fisioterapia, já tentou acupuntura?
No fim, não há alternativa. Você vai continuar com suas dores e insônias. Trocar o colchão, comprar uma poltrona reclinável pode ser um alívio. Temporário, claro.
Até que, bem, deixemos para lá. Não será gentil incluir referência àquela foice fatídica para estragar o seu descanso.
Boa noite, se o sono vier.