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ERNANI BUCHMANN CABECA hojesc

Joaquinzinho

O excesso de amor, por alguém ou por algo, pode levar ao exagero, em qualquer circunstância da vida. Religião, política e futebol têm milhões de exemplos de fanatismo, arapuca que subverte a lógica, obnubila os sentidos e desconhece a razão. Vamos aos fatos.

Na década de 1960, Santos e Botafogo dividiam a hegemonia do futebol brasileiro. O Santos com oito jogadores (Gilmar, Lima, Mauro, Zito, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe) que defenderam a seleção nas Copas de 1958/62/66.

O Botafogo, nas mesmas Copas, teve sete (Manga, Rildo, Garrincha, Jairzinho, Didi, Amarildo e Zagalo. Porém, nem sempre venciam os campeonatos estaduais de São Paulo e Rio.

Em 1964, por exemplo, o Fluminense montou um bom time, dirigido pelo técnico Tim, Elba de Pádua Lima, apelidado na Argentina de El Peón, por dar rumos à seleção em seu tempo de jogador. O Flu ganhou o campeonato, decidido em dois jogos contra o Bangu, com este time: Castilho, Carlos Alberto Torres, Procópio, Valdez e Altair; Denilson e Oldair; Jorginho, Amoroso, Joaquinzinho e Gilson Nunes.

Na época a TV Rio mantinha aos domingos à noite um programa de alta audiência, a Grande Resenha Facit, estrelado pelos maiores cronistas cariocas da época, como João Saldanha, Armando Nogueira (ambos botafoguenses), o tricolor Nelson Rodrigues e José Maria Scassa, flamenguista.

Depois do programa, era praxe seguir para a Fiorentina, cantina no Leme, reduto de artistas da música, do cinema, da TV, do jornalismo e de escritores.

Logo depois do título do Fluminense – o Santos iria vencer o campeonato paulista no fim daquele ano – alguém sugeriu comparar os dois times.

Começaram pelos goleiros: Gilmar e Castilho eram equivalentes, mas Castilho venceu a disputa; depois Carlos Alberto bateu Lima e por aí foi. Ao chegar nos atacantes, o Santos disparou. Dorval e Pepe, os dois pontas do Santos, ficaram com as camisas 7 e 11. Coutinho com 9. Restava a camisa 10. Foi quando alguém comentou:

– Esta parada é do Negão, não tem jeito.

Foi o bastante para, na mesa ao lado, um tricolor levantar-se indignado, o braço parecendo um metrônomo acelerado:

– Pera aí, pera aí. Vamos com calma.

E, ante o olha incrédulo de todos, arrematou:

– Joaquinzinho está jogando um bolão.

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