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FERNANDA GHIGNONE CABECA HOJESC

Enxaqueca: quando a comida pode aliviar ou piorar a dor

DOR DE CABECA

A enxaqueca é muito mais do que uma simples dor de cabeça. Trata-se de uma condição neurológica crônica, caracterizada por dor pulsátil, geralmente em um dos lados da cabeça, que pode vir acompanhada de náuseas, vômitos, sensibilidade à luz e ao som. As crises são recorrentes e muitas vezes imprevisíveis, impactando diretamente na qualidade de vida. Entre os principais fatores desencadeantes estão o estresse, alterações hormonais, privação de sono e, especialmente, a alimentação.

O que colocamos no prato pode ser um importante aliado no controle da enxaqueca, ou um gatilho poderoso para o surgimento das crises. Estudos mostram que certos alimentos possuem substâncias capazes de provocar reações neurovasculares que resultam nas dores. Ao mesmo tempo, há alimentos com propriedades anti-inflamatórias e nutrientes que ajudam na modulação do sistema nervoso central, contribuindo para a prevenção e o alívio dos sintomas.

Manter uma alimentação equilibrada e horários regulares para as refeições é uma das principais estratégias para reduzir a frequência e a intensidade das crises. Ficar muitas horas em jejum pode gerar queda de glicose, o que sobrecarrega o sistema nervoso e pode desencadear a dor. A hidratação adequada também é essencial, já que a desidratação é uma causa comum de cefaleia, especialmente em dias quentes ou em pessoas que consomem pouca água ao longo do dia.

Alguns alimentos devem ser priorizados na rotina. Frutas frescas, verduras, legumes, grãos integrais, oleaginosas e fontes de proteínas magras, como peixes e carnes magras, são ótimos aliados. Além disso, chás calmantes e digestivos, como camomila, gengibre e melissa, podem contribuir com sua ação anti-inflamatória e relaxante.
Por outro lado, é importante evitar alimentos conhecidos por sua associação com o aparecimento de crises.

Embutidos como presunto, salsicha e salame contêm nitritos e outros conservantes químicos que atuam como gatilhos. Queijos maturados, como parmesão e gorgonzola, contêm tiramina, substância relacionada ao aumento da dor. O chocolate, também pode provocar crises em pessoas sensíveis, especialmente se consumido em excesso. A cafeína, presente no café, chá-preto e refrigerantes, deve ser moderada: em pequenas doses para consumidores diários pode aliviar a dor, mas seu consumo excessivo ou a abstinência repentina são gatilhos para enxaqueca. O mesmo cuidado vale para bebidas alcoólicas, especialmente o vinho tinto, rico em histaminas e sulfitos. Adoçantes artificiais e alimentos ultraprocessados com corantes e aromatizantes também merecem atenção.

Entre os nutrientes mais estudados na prevenção da enxaqueca estão o magnésio e a riboflavina (vitamina B2), encontrados em alimentos como espinafre, amêndoas e sementes. O magnésio, em especial, exerce papel essencial na regulação da função neuromuscular e na modulação da excitabilidade cerebral, sendo frequentemente observado em menor concentração em pessoas com enxaqueca. Da mesma forma, as vitaminas do complexo B, como B2 e B6, estão envolvidas na produção de neurotransmissores e na proteção das células nervosas, sendo estudadas tanto em dietas quanto em protocolos de suplementação para alívio dos sintomas. A escolha do tipo e da dose desses suplementos deve ser feita com base na avaliação individualizada pelo nutricionista.

Os fitoterápicos também têm ganhado destaque como coadjuvante no manejo da enxaqueca. Algumas plantas medicinais demonstraram eficácia na redução da frequência e intensidade das crises. O extrato de Zingiber officinale, que tem propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, pode auxiliar na dor e melhorar o enjoo. Outra planta é a Petasites hybridus, que diminui o processo inflamatório e atua modulando canais que liberam substâncias associadas a fisiopatologia da enxaqueca, embora sua prescrição deve ser feita com cautela, devido à necessidade de padronização e controle de toxicidade.

Cada pessoa tem sua própria sensibilidade e identificar os alimentos desencadeantes pode ser um processo individualizado. Por isso, uma boa dica é manter um diário alimentar e anotar os episódios de dor, relacionando-os com os alimentos consumidos nas horas ou dias anteriores. Cuidar da alimentação é uma forma eficaz de prevenir as crises de enxaqueca e melhorar a qualidade de vida. Com atenção aos sinais do corpo, escolhas conscientes e suplementação adequada, é possível tratar a enxaqueca.

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