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EDITORIAL

Enquanto o povo aperta o cinto, o TST abre o champanhe

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Regalias milionárias para ministros incluem sala vip no Aeroporto de Brasília e frota de sedãs Lexus, cada um custando mais de R$ 346 mil. Decisão gera indignação e pedidos de investigação

O brasileiro acorda cedo, pega ônibus lotado, enfrenta fila no posto de saúde e, se sobrar tempo e dinheiro, ainda tenta pagar as contas atrasadas. Já no Tribunal Superior do Trabalho (TST), a rotina parece bem diferente. Lá, a preocupação do dia é outra: garantir que Suas Excelências tenham, no aeroporto de Brasília, um refúgio devidamente climatizado onde possam esperar seus voos sem a desagradável presença do… povo.

Tudo isso pela bagatela de R$ 854 mil em dois anos. Pode até parecer pouco, considerando que não se trata de uma simples sala de espera, mas, imagina-se, de um verdadeiro spa dentro do aeroporto, com poltronas de couro macio que abraçam o corpo, luz ambiente digna de hotel cinco estrelas, charutos à mão, copos de cristal para o whisky 25 anos e um bufê que deve alternar sushis fresquinhos, sashimis de salmão e petit fours artesanais. Afinal, qualquer ministro precisa de proteína de alto padrão antes de enfrentar o sacrifício de um voo ao seus Estado de origem.

E o aluguel mensal de R$ 30 mil é só o começo. Ainda há R$ 170 mil por ano para “serviços adicionais”, o que, claro, não deve incluir pão de queijo requentado. Não custa imaginar que até a temperatura do ar seja ajustada a cada entrada: 21 °C para um, 23 °C para outro, porque conforto é questão de Justiça.

Mas nem só de sala VIP vive a corte. Também é preciso renovar a frota de automóveis. Para isso, os ministros querem comprar 30 Lexus ES 300h, cada um a R$ 346,5 mil, somando mais de R$ 10 milhões. São sedãs híbridos de luxo, com bancos aquecidos, interior revestido de couro e suspensão que não sente buracos, o que é ótimo para quem circula em Brasília, cidade onde até o asfalto parece tratado com mais carinho do que o trabalhador comum. O curioso é que o TST tem 27 ministros, mas quer comprar 30 carros.

E pensar que estudos internos apontavam modelos mais baratos mas, convenhamos, um Toyota ou um Honda talvez não transmitisse a “imagem institucional” necessária. E, se é para passar a impressão certa, que seja no conforto silencioso de um Lexus, com motorista particular e ar gelado na medida.

Enquanto isso, o brasileiro que banca essa conta continua pedalando para chegar ao trabalho, espreme-se no transporte público e paga impostos que somem em luxos alheios. O TST gosta de lembrar que é o “guardião da Justiça Social”, mas, pela lista de compras, parece mais o guardião da própria comodidade.

Do jeito que vai, não será surpresa se o próximo investimento for um serviço de massagistas exclusivos no saguão da Corte ou um sommelier de vinhos no plenário. Afinal, julgar é cansativo, e a nação certamente compreende. Ou não.

Os argumentos dos ministros do TST para promover essa farra com o dinheiro público soam como deboche. O que esses altos magistrados querem é ter um espaço de luxo para se isolar da população que deveriam servir.

Essas decisões representam um descompasso gritante entre o discurso e a prática. O país atravessa dificuldades estruturais, com serviços públicos deteriorados, mas vê recursos milionários sendo destinados a mordomias para poucos. A mensagem transmitida à sociedade é inequívoca: existe um Brasil para quem paga a conta e outro, muito mais confortável, para quem gasta.

O caso já chegou ao Tribunal de Contas da União, que foi acionado para suspender o contrato da sala VIP, apontando falta de justificativa técnica, transparência e competitividade, além do caráter restrito do benefício, que pode até ser usado em viagens pessoais. Há também pedidos para apuração dos gastos com os veículos, sob suspeita de afronta aos princípios da moralidade, economicidade e finalidade pública.

É hora de cortar excessos, abandonar luxos injustificáveis e lembrar que dinheiro público não é cheque em branco para extravagâncias. O povo brasileiro já não suporta mais bancar essa farra.

Editorial originalmente publicado pelo HojePR

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