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Endividamento e inadimplência na economia brasileira e paranaense

Semana passada a Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgou a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), referente ao mês de agosto de 2025.

É importante refletirmos sobre esses resultados.

No Brasil, 78,8% das famílias estão endividadas, usando o cartão crédito, utilizando o cheque especial ou simplesmente financiado um automóvel ou imóvel. No Paraná, esse número é maior, com 85,7% das famílias com alguma dívida. Sendo que o cartão de crédito permanece como a principal modalidade de endividamento no estado, representando 95,2% das dívidas em agosto. Em seguida aparecem os financiamentos de veículos (6,9%) e imobiliários (5,6%).

Em economia, um nível de endividamento por si só não é um problema. Na verdade, ele pode indicar um bom acesso ao sistema financeiro em uma economia pujante.

Preocupante é o aumento no nível de inadimplência. A partir dos dados da CNC temos dois movimentos.

Primeiro, no Paraná as famílias com contas em atraso somam 12,4%, um valor menor se comparado com agosto de 2024, com 15,0%. Neste sentido, os consumidores paranaenses estão mais receosos com o futuro da economia e focando a utilização do seu orçamento para pagamento de dívidas e reduzindo a probabilidade de inadimplência. Outro fator que explica a queda na inadimplência reside no excelente desempenho do mercado de trabalho regional. Nossa taxa de desemprego é menor que a média nacional e faz dois anos que estamos operando em um nível de pleno emprego, como dizem os economistas, e com crescimento real de salário.

A segunda análise mostra um comportamento diferente. No Brasil, a inadimplência subiu de 28,8% em agosto do ano passado para 30,4% das famílias. Ou seja, em geral a população brasileira está sentido o forte aperto monetário de juros Selic em 15,00% ao ano e o encarecimento do crédito.

Com base nestes dados da CNC, estimo que no Brasil atualmente há cerca de 67 milhões de inadimplentes e no Paraná 1,3 milhão.

De acordo com o Indicador de Inadimplência de Pessoas Físicas, da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas e do SPC Brasil há aproximadamente 72 milhões de pessoas inadimplentes. São números próximos os quais seguem suas próprias metodologias, mas chegam a um cenário preocupante para nossa economia, pois não temos no cenário macroeconômico uma previsão de queda de juros e facilidade do crédito.

Infelizmente, nesse ambiente de juros permanentemente elevados a situação do consumidor brasileiro e paranaense pode piorar.

Lucas Lautert Dezordi, é doutor em Economia e professor da PUC PR.