Ilustrar parece ser uma forma de esclarecer alguma coisa, uma ideia ou uma técnica, por exemplo. A gente às vezes diz: “Para ilustrar, vou contar uma história… “. Nesse caso, a história é uma exemplificação da ideia que se está querendo transmitir de forma verbal ou escrita. Na Ciência, a ilustração é parceira, amiga fiel na loucura de perseguir e aprofundar uma ideia inédita ou já desenvolvida até certo ponto, na busca de um resultado inédito que, como na arte, é incerto e demanda, muitas vezes, uma fé cega na consecução do objetivo de construir ou aprimorar um conhecimento.

Na Ciência, as tabelas, gráficos ou desenhos complementam um estudo, reafirmam ou podem provar uma tese. E nas Artes, como funcionam as ilustrações? Gosto de pensar nelas como arte independente, que conta sua própria história. Assim como um texto sem figuras que leva o leitor a imaginar seus próprios personagens, ambientes e um universo particular gerado pela imaginação ativada pelas palavras do escritor, as imagens que ilustram um determinado texto podem ser tão fortes que levam o leitor por caminhos paralelos ao apresentado no texto. Seria esse fato um sinal de uma ilustração inadequada?
Não creio. O observador é aquele que completa, com seu entendimento e suas experiências vividas, aquilo que o artista ou autor quis mostrar ou mesmo tentou veicular com sua obra. Portanto, o leitor, seja do texto ou da imagem, não é uma plateia morta, inerte, e sim um parceiro da obra. É isso o que mais gosto nas Artes: o olhar do observador, sem o qual a obra é inexistente e, como diz o filósofo sobre a árvore que cai na floresta e, não sendo percebida, é como se tal fato ou árvore não existisse. Por isso, é tão importante para o artista expor a sua produção, pois é no compartilhar que ela passa a existir.

Já criei desenhos que geraram histórias e histórias que geraram desenhos. Assim acontece com personagens – heróis ou super heróis – criados como tipos fantásticos, que não existem na vida real mas ilustram pensamentos, histórias, gerando emoções, filosofias ou modos de vida que, absorvidos e bem aceitos por um público, passam a ter vida própria, povoando as mentes e corações de seu seguidores, continuando a existir por muitos anos ou até por gerações, como tantos que conhecemos.
Eu sempre gostei de “figuras”. Deixo-me encantar pelas capas dos livros e peço os pratos nos restaurantes pelas fotos dos cardápios. Acho muito chato cardápio sem fotos e explico: a não ser que busque ser surpreendida pelo chef, prefiro conhecer o que, na realidade, vou experimentar, desde as cores, formato dos alimentos, até o tamanho das porções a serem servidas. Nesse caso, a ilustração se presta bem a explicar e a descrever, coisa um pouco diferente dos livros técnicos, que ensinam, passo a passo, como se chegar a um resultado desejado. Já nos livros de histórias, eu me deixava levar pelos desenhos, o que faço ainda hoje, muitas vezes totalmente ignorando os escritos por um longo período de tempo e deixando a imaginação voar descontrolada, o que, aliás, no colégio, me causou muitos problemas – inúmeras foram as vezes em que me senti mal compreendida rsssssss.

Em breve vou lançar meu segundo livro infantil, inspirada pela mitologia indígena brasileira que, como vocês bem sabem, me encanta. Nesse caso, escrevi a história, baseada em personagens que já haviam povoado minhas esculturas e gravuras, e utilizando algumas de minhas próprias obras fotografadas, inserindo-as nas páginas impressas da aventura pensada ao modo indígena – cultura mitológica que me foi apresentado pelos irmão Villas Boas em seu livro “Xingu os índios, seus mitos”, cujos exemplares possuo da quinta e sétima Edições, publicadas pelas Editoras Zahar (1979) e Kuarup (1986) respectivamente, ilustradas sutil e delicadamente pelo nosso querido Poty Lazzarotto.
As ilustrações enriquecem os textos ou os textos recriam personagens idealizados pelos ilustradores? Não importa! O que considero essencial é como ambos levam, com suas mãos mágicas, o leitor ou o espectador a viajar por outros mundos, muitas vezes sequer imaginados e, outras vezes, confirmando e comprovando teorias e pesquisas que foram muito aprofundadas por mentes lógicas em busca da verdade, muito além da ilusão e dos sonhos, tantas vezes guiadas por uma fé cega!
(Ilustração de abertura: Sem título – Ilustração do livro “Xingu os Índios, Seus mitos”- sétima edição- 1986- Editora Kuarup.)
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