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ELIZABETH TITTON CABECA hojesc

Ilustração

Ilustrar parece ser uma forma de esclarecer alguma coisa, uma ideia ou uma técnica, por exemplo. A gente às vezes diz: “Para ilustrar, vou contar uma história… “. Nesse caso, a história é uma exemplificação da ideia que se está querendo transmitir de forma verbal ou escrita. Na Ciência, a ilustração é parceira, amiga fiel na loucura de perseguir e aprofundar uma ideia inédita ou já desenvolvida até certo ponto, na busca de um resultado inédito que, como na arte, é incerto e demanda, muitas vezes, uma fé cega na consecução do objetivo de construir ou aprimorar um conhecimento.

(C) Asterix- Histórias em quadrinhos, criadas por René Goscinny e Albert Uderzo 1959. Editoras: Dargaud Hachette - Editions Albert René - Wikipedia.
(C) Asterix- Histórias em quadrinhos, criadas por René Goscinny e Albert Uderzo 1959. Editoras: Dargaud Hachette – Editions Albert René – Wikipedia.

Na Ciência, as tabelas, gráficos ou desenhos complementam um estudo, reafirmam ou podem provar uma tese. E nas Artes, como funcionam as ilustrações? Gosto de pensar nelas como arte independente, que conta sua própria história. Assim como um texto sem figuras que leva o leitor a imaginar seus próprios personagens, ambientes e um universo particular gerado pela imaginação ativada pelas palavras do escritor, as imagens que ilustram um determinado texto podem ser tão fortes que levam o leitor por caminhos paralelos ao apresentado no texto. Seria esse fato um sinal de uma ilustração inadequada?

Não creio. O observador é aquele que completa, com seu entendimento e suas experiências vividas, aquilo que o artista ou autor quis mostrar ou mesmo tentou veicular com sua obra. Portanto, o leitor, seja do texto ou da imagem, não é uma plateia morta, inerte, e sim um parceiro da obra. É isso o que mais gosto nas Artes: o olhar do observador, sem o qual a obra é inexistente e, como diz o filósofo sobre a árvore que cai na floresta e, não sendo percebida, é como se tal fato ou árvore não existisse. Por isso, é tão importante para o artista expor a sua produção, pois é no compartilhar que ela passa a existir.

"Senhora e o cão" - Marco Antonio Camargo - line art a nanquim sobre papel- 21x29,7 cm- @mardecamargo.
“Senhora e o cão” – Marco Antonio Camargo – line art a nanquim sobre papel- 21×29,7 cm- @mardecamargo.

Já criei desenhos que geraram histórias e histórias que geraram desenhos. Assim acontece com personagens – heróis ou super heróis – criados como tipos fantásticos, que não existem na vida real mas ilustram pensamentos, histórias, gerando emoções, filosofias ou modos de vida que, absorvidos e bem aceitos por um público, passam a ter vida própria, povoando as mentes e corações de seu seguidores, continuando a existir por muitos anos ou até por gerações, como tantos que conhecemos.

Eu sempre gostei de “figuras”. Deixo-me encantar pelas capas dos livros e peço os pratos nos restaurantes pelas fotos dos cardápios. Acho muito chato cardápio sem fotos e explico: a não ser que busque ser surpreendida pelo chef, prefiro conhecer o que, na realidade, vou experimentar, desde as cores, formato dos alimentos, até o tamanho das porções a serem servidas. Nesse caso, a ilustração se presta bem a explicar e a descrever, coisa um pouco diferente dos livros técnicos, que ensinam, passo a passo, como se chegar a um resultado desejado. Já nos livros de histórias, eu me deixava levar pelos desenhos, o que faço ainda hoje, muitas vezes totalmente ignorando os escritos por um longo período de tempo e deixando a imaginação voar descontrolada, o que, aliás, no colégio, me causou muitos problemas – inúmeras foram as vezes em que me senti mal compreendida rsssssss.

 

"O sol" - Elizabeth Titton -Tecnica mixta, acrílica e colagem - do livro "... uma vez o Sol e a Lua" - (no prelo) - 2025.
“O sol” – Elizabeth Titton -Tecnica mixta, acrílica e colagem – do livro “… uma vez o Sol e a Lua” – (no prelo) – 2025.

Em breve vou lançar meu segundo livro infantil, inspirada pela mitologia indígena brasileira que, como vocês bem sabem, me encanta. Nesse caso, escrevi a história, baseada em personagens que já haviam povoado minhas esculturas e gravuras, e utilizando algumas de minhas próprias obras fotografadas, inserindo-as nas páginas impressas da aventura pensada ao modo indígena – cultura mitológica que me foi apresentado pelos irmão Villas Boas em seu livro “Xingu os índios, seus mitos”, cujos exemplares possuo da quinta e sétima Edições, publicadas pelas Editoras Zahar (1979) e Kuarup (1986) respectivamente, ilustradas sutil e delicadamente pelo nosso querido Poty Lazzarotto.

As ilustrações enriquecem os textos ou os textos recriam personagens idealizados pelos ilustradores? Não importa! O que considero essencial é como ambos levam, com suas mãos mágicas, o leitor ou o espectador a viajar por outros mundos, muitas vezes sequer imaginados e, outras vezes, confirmando e comprovando teorias e pesquisas que foram muito aprofundadas por mentes lógicas em busca da verdade, muito além da ilusão e dos sonhos, tantas vezes guiadas por uma fé cega!

(Ilustração de abertura: Sem título – Ilustração do livro “Xingu os Índios, Seus mitos”- sétima edição- 1986- Editora Kuarup.)

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.