9 de agosto de 2023: Alef Manga, jogador do Coritiba, é suspenso por 360 dias e recebe multa de R$ 30 mil.
4 de setembro de 2025: Bruno Henrique, jogador do Flamengo, é suspenso por 12 jogos.
As duas sentenças foram aplicadas pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Os dois jogadores envolvidos em manipulação de resultados.
A comparação é inevitável — e incômoda. O mesmo tribunal, diante de condutas semelhantes, aplicou penas radicalmente diferentes. A Manga, atleta de um clube tradicional, mas sem o peso político e midiático de um gigante do eixo Rio-São Paulo, a sentença foi devastadora: um ano inteiro impedido de jogar futebol, impedido de exercer sua profissão, afastado dos gramados e da própria carreira. Resultado: Manga nunca mais voltou a apresentar o mesmo nível técnico, vítima não apenas da punição, mas do fardo de carregar a marca de “exilado” do futebol.
Já Bruno Henrique, estrela de um Flamengo poderoso dentro e fora de campo, recebeu um castigo simbólico. Doze jogos. Em um calendário inchado como o do futebol brasileiro, a pena significa, na prática, um contratempo passageiro. Não há risco de perder espaço no elenco, nem de ver a carreira em frangalhos. O STJD, nesse caso, preferiu a dosagem suave da pena, a multa proporcional, o conforto de não afrontar o clube mais influente do país.
Essa discrepância escancara a leniência com que o tribunal trata os “grandes” do futebol brasileiro. Quando se tratam de clubes com menos projeção, a mão da Justiça Desportiva pesa com força desproporcional, como se houvesse a necessidade de um exemplo público, ainda que custe a carreira de um jogador. Mas, diante de um gigante como o Flamengo, a mesma mão treme, hesita e mede as consequências midiáticas e políticas de um ato severo.
Não se trata de defender inocência ou minimizar a gravidade das manipulações de resultados. Ambos os casos, Alef Manga e Bruno Henrique, mereciam punições firmes e exemplares. O problema está no abismo de critérios: onde um clube menor recebe a sentença máxima, outro, de maior influência, escapa com uma punição quase protocolar.
O STJD deveria zelar pela isonomia, pela imparcialidade, pelo equilíbrio que sustenta a credibilidade da Justiça. O que se vê, no entanto, é a corrosão desse princípio. O tribunal, ao punir com pesos diferentes, transforma a lei em conveniência. E a Justiça que deveria ser cega parece enxergar muito bem os escudos estampados nas camisas dos réus.
No fim, não é apenas a carreira de Alef Manga que foi sacrificada. É a própria confiança na lisura do futebol brasileiro que fica abalada. Porque quando a Justiça tem lado, o jogo inteiro perde.
Fotos: Gabriel Thá/Coritiba e Alexandre Vidal/Flamengo
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