A depressão é uma doença muito falada atualmente, mas ainda assim cercada de mitos, especialmente a ideia de que basta tomar um comprimido e pronto, tudo se resolve. É importante entender que, embora os antidepressivos sejam essenciais em alguns casos, a depressão não é apenas um desequilíbrio químico que se corrige com remédio. Ela é resultado de múltiplos fatores que envolvem desde processos inflamatórios, hormonais e até questões ligadas ao estilo de vida, como sono, microbiota intestinal e hábitos alimentares. Por isso, o tratamento precisa ser integrativo, olhando o indivíduo de forma ampla, e aqui a nutrição desempenha um papel fundamental.
O primeiro ponto de alerta é que quem tem sintomas depressivos deve buscar avaliação médica para diagnóstico da depressão e acompanhamento da doença. Mas, ao mesmo tempo, é essencial procurar também uma nutricionista para investigar possíveis carências nutricionais que impactam diretamente o humor e a produção de neurotransmissores como serotonina, dopamina e GABA. Vitaminas do complexo B (como niacina B3, piridoxina B6 e ácido fólico B9), além de minerais como magnésio e ferro, são cofatores indispensáveis na produção desses neurotransmissores. Quando estão em falta, mesmo a melhor medicação pode não alcançar seu potencial máximo.
Outro nutriente essencial é o triptofano, aminoácido presente em alimentos como banana, aveia, sementes, castanhas, grão-de-bico e chocolate amargo. Ele é a matéria-prima da serotonina, neurotransmissor conhecido por promover a sensação de bem-estar. Por isso, incluir esses alimentos no dia a dia pode colaborar para melhorar o humor e até potencializar o efeito do tratamento médico.
Mas não basta só pensar em nutrientes: é preciso lembrar da conexão entre intestino e cérebro. Cerca de 90% da serotonina do corpo é produzida no intestino. Quando há um desequilíbrio da microbiota intestinal, pode haver aumento de inflamações que afetam o sistema nervoso central, piorando ou até desencadeando quadros depressivos. Portanto, é importante cuidar do intestino com alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras e leguminosas, além de evitar ultraprocessados, excesso de açúcar e gordura saturada, que estimulam a chamada neuroinflamação.
Essa inflamação no cérebro, causada por uma alimentação inadequada, está sendo cada vez mais estudada como fator determinante para o agravamento da depressão. Por isso, priorizar uma dieta anti-inflamatória, rica em vegetais coloridos, azeite de oliva, peixes e sementes, não é só uma recomendação genérica: é uma estratégia essencial para reduzir sintomas depressivos.
Além da alimentação, o uso de fitoterápicos também pode contribuir para o tratamento, sempre com acompanhamento de um nutricionista fitoterapeuta: algumas plantas medicinais têm mostrado resultados promissores no suporte ao tratamento da depressão. Crocus sativus (açafrão verdadeiro), Withania somnifera (ashwagandha), Rhodiola rosea, Griffonia simplicifolia e Curcuma longa (cúrcuma) são exemplos de plantas que podem modular neurotransmissores, reduzir a ansiedade e a inflamação, sempre respeitando indicações, possíveis interações medicamentosas e dosagens seguras.
É importante lembrar que não se trata de substituir a medicação, mas de somar forças. O tratamento da depressão depende de diferentes cuidados que se complementam e fazem a diferença juntos. O acompanhamento nutricional garante que seu corpo tenha os nutrientes necessários para que o cérebro funcione melhor. O cuidado com o intestino ajuda a reduzir inflamações que impactam diretamente o humor. E os fitoterápicos, quando necessários, podem complementar esse tratamento, trazendo mais qualidade de vida.
Depressão não é fraqueza, não é preguiça e não é apenas uma questão de química cerebral. É uma doença complexa que merece um tratamento completo e cuidadoso. Comece pelo que está ao seu alcance, revendo seus hábitos alimentares, buscando orientação profissional e tendo consciência de que, mesmo com os melhores medicamentos, o corpo precisa de nutrientes para os neurotransmissores.
Leia mais colunas da Fernanda Ghignone aqui