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FERNANDA GHIGNONE CABECA HOJESC

Corantes artificiais e o risco para distúrbios neurológicos

Na infância, tudo parece mais divertido quando é colorido. Balas, gelatinas, refrigerantes e bolos com cores vibrantes fazem sucesso imediato, e para muitas crianças, a escolha do alimento é feita pelo olhar. Mas o que algumas pessoas não sabem é que essas cores artificiais, que despertam e estimulam a preferência por determinados produtos, podem estar ligadas ao agravamento de sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Alguns estudos sugerem que crianças com TDAH podem apresentar melhora nos sintomas ao remover corantes artificiais da alimentação. Ou seja, pequenas mudanças na dieta podem trazer grandes impactos no comportamento, na atenção e no aprendizado. E não se trata apenas de uma associação leve: as pesquisas sugerem que há uma relação direta entre esses aditivos e alterações neurológicas importantes.

Um estudo de revisão publicado recentemente analisou os efeitos dos corantes Azul nº 1 e Azul nº 2, ambos aprovados pela Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos EUA, e encontrou um padrão preocupante: animais expostos a esses compostos, mesmo em níveis considerados seguros, apresentaram comportamentos hiperativos. As alterações comportamentais foram associadas ao impacto dos corantes artificiais afetando o desenvolvimento neural, que sugere estar ligado a deficiências nutricionais e ao acúmulo de metais pesados, como o mercúrio.

Isso ocorre porque os corantes artificiais podem interferir nos níveis de minerais no organismo, como zinco e manganês, ambos fundamentais para a saúde cerebral. A carência nutricional de minerais afeta diretamente a neurotransmissão, o equilíbrio emocional e a capacidade de concentração. Quando somamos esses fatores aos metais pesados que podem conter nesses aditivos sintéticos, temos um terreno fértil para desequilíbrios comportamentais, especialmente em crianças mais sensíveis ou que já possuem predisposição a transtornos neurológicos.

Outro estudo realizado com modelos animais reforçou essas conclusões, indicando que os corantes sintéticos podem impactar a atividade motora e a função cerebral por meio de possíveis alterações neuroquímicas e pelo acúmulo de metais pesados. Os pesquisadores chamaram atenção para reavaliar os atuais limites de segurança estabelecidos por órgãos de regulação de alimentos para o uso desses aditivos, especialmente quando o público-alvo são crianças em pleno desenvolvimento neurológico.

Além dos efeitos diretos no cérebro, é importante destacar que esses aditivos artificiais também podem afetar o eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação entre o sistema digestivo e o sistema nervoso central. Os corantes como o amarelo crepúsculo (tartrazina), vermelho 40 e azul brilhante FCF, comumente utilizados em alimentos industrializados, podem alterar a microbiota intestinal ao promover desequilíbrios na composição das bactérias intestinais, prejudicar a integridade da mucosa intestinal e estarem associados a processos inflamatórios. Como consequência, ocorre uma interferência na produção de neurotransmissores como a serotonina e a dopamina, fundamentais para o controle do humor, da atenção e da impulsividade.

Embora ainda haja debate na ciência sobre a extensão exata dos efeitos neurocomportamentais, é necessário estar atento à composição dos alimentos oferecidos às crianças. Ler os rótulos, priorizar alimentos mais naturais e evitar produtos ultraprocessados com cores chamativas pode ser um passo simples, mas significativo para a saúde neurológica. Trata-se de uma questão de cuidado com o desenvolvimento infantil.

Se um aditivo não traz benefício nutricional algum, mas apresenta risco ao cérebro em desenvolvimento, vale a pena mantê-lo na alimentação?

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