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CRISE DO METANOL

Como o descarte incorreto de vidros alimenta a falsificação de bebidas no Brasil

Garrafas-de-Vidro

As notícias sobre bebidas adulteradas com substâncias tóxicas das últimas semanas, como o metanol, têm crescido e gerado um alerta em todo o País.

O que muitos não sabem é que boa parte dessas falsificações ocorre em garrafas originais que foram desviadas da cadeia de reciclagem.

Um terço das bebidas são falsificadas

Segundo a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD), cerca de um terço das bebidas destiladas vendidas no Brasil são falsificadas, muitas delas utilizando garrafas originais descartadas de forma incorreta.

Neste contexto, Saville Alves, presidente da Associação Brasileira de Logística Reversa (Abelore) a partir do dia 15 de outubro, e líder de negócios da startup de impacto socioambiental, SOLOS, alerta para a relação direta entre o descarte de vidro e os riscos à saúde da população.

Reuso indevido de garrafas

Por trás de casos de intoxicação e mortes, existe uma ponta bem menos visível, porém decisiva em relação ao problema: o reuso indevido de garrafas de vidro, desviadas do sistema de reciclagem. Para Saville, o descarte incorreto do vidro é mais do que uma falha ambiental — é uma questão de saúde pública. “Toda garrafa jogada no lixo comum acaba se tornando uma oportunidade aberta para o crime. Quando ela sai do ciclo da reciclagem, pode acabar voltando ao mercado em mãos erradas, carregando um risco invisível para quem consome. Por isso é necessário pensar que um gesto tão simples, como descartar corretamente o vidro, possa ser a diferença crucial entre segurança e tragédia”, afirma.

No Brasil, o cenário ainda é desafiador, em 2024, estima-se que apenas 25% das embalagens de vidro tenham sido recicladas, de acordo com a Circula Vidro, entidade gestora da logística reversa do setor. O dado contrasta com o potencial do material, que é 100% reciclável: a cada quilo de vidro coletado, é possível gerar outro quilo de novo vidro, sem perdas no processo.

Separação correta

“Quando o cidadão separa corretamente o vidro, ele não apenas impede que o material volte a um ciclo irregular, mas também impulsiona uma rede de impacto positivo. Cada garrafa destinada ao lugar certo ajuda a gerar renda para catadores e cooperativas, fortalece economias locais e mantém viva a engrenagem da economia circular. É um gesto pequeno na prática, mas gigante no resultado: protege vidas, valoriza o trabalho e transforma descarte em oportunidade”, destaca Saville.

Logística reversa é necessária

Para reduzir os riscos e fortalecer esse ciclo, a Abelore defende que combater o reuso irregular de garrafas de vidro exige uma logística reversa mais estruturada, transparente e valorizada. Isso passa pela aplicação efetiva da Responsabilidade Estendida do Produtor, com definição clara sobre quem arca com os custos da coleta, triagem e reciclagem. A entidade também destaca a importância da remuneração justa para cooperativas e empresas que prestam esses serviços, reconhecendo-os como parte da cadeia produtiva das bebidas. Para garantir controle e segurança, propõe a adoção de sistemas de rastreabilidade e bancos de dados públicos, capazes de acompanhar as embalagens do consumo à reciclagem. Por fim, reforça a necessidade de fiscalização integrada entre órgãos competentes, auditorias independentes e cruzamento de informações, assegurando transparência, proteção ao consumidor e avanço real da economia circular.

Problema de todos

Algumas outras práticas simples podem dificultar o reuso irregular, portanto a participação da população também é essencial para combater o problema. É ideal que nunca se descarte a tampa junto com a garrafa, colocando cada item em lixos diferentes. Também é importante rasgar ou retirar o rótulo da embalagem antes de jogá-la fora e encaminhar as garrafas para pontos de coleta de vidro ou locais de reciclagem autorizados, visto que, evitar o descarte no lixo comum também ajuda a impedir que elas sejam desviadas para usos indevidos. Sempre que possível, recomenda-se quebrar a garrafa antes do descarte, já que a garrafa inteira tem alto valor para o reuso, enquanto a quebrada segue diretamente para o processo de reciclagem.

Destino rastreável

“Não basta responsabilizar quem desvia as embalagens. É preciso garantir que cada garrafa tenha um destino rastreável, desde o consumo até a reciclagem, para evitar que volte ao mercado de forma irregular. Nem todas as garrafas reutilizadas acabam em bebidas adulteradas, mas a prática existe e coloca vidas em risco. Assim, o descarte correto se torna além de um ato de responsabilidade social, um meio de interromper esse ciclo e proteger o consumidor”, finaliza a presidente da Abelore.

Foto: Divulgação

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