Parte relevante da minha vida tem sido dedicada ao envolvimento profissional com o setor de tecnologia e inovação, o que me levou a trilhar o caminho associativista, ocupando posições de representatividade nesta área tão crucial para o desenvolvimento do Brasil. Isso faz com que o alarmante banimento do X (antigo Twitter) do nosso País tenha um significado ainda mais profundo para mim.
Além da indignação como cidadão, que repudia a censura, o autoritarismo e o despotismo nitidamente existentes neste caso, fica a aversão enquanto empreendedor que enxerga nessa absurda decisão riscos acentuados para o mercado de tecnologia e inovação. O entendimento que temos é de que o mundo está nos enxergando como uma republiqueta instável e insegura para investimentos, sobretudo no mercado de inovações.
Basta analisar o caso específico do X e ver que essa cautela tem fundamento. Afinal, como investir em setores com características disruptivas, em um País em que mesmo empresas mundialmente estabelecidas e testadas são perseguidas arbitrariamente? Precisamos ficar inquietos diante desse contexto que estamos vivenciando. A censura jamais deve ter espaço em uma nação cujas bases sejam liberais e democráticas.
Enquanto houver uma mínima censura, ficaremos impossibilitados de dizer que vivemos num país democrático e republicano. Estamos cada vez mais distantes de Nações como Estados Unidos e Israel, e cada vez mais próximos de Países como Coreia do Norte, Rússia e Irã (onde o X também é banido). É isso que queremos para nós? É esse o nosso projeto de País?
Avançando nas reflexões, temos notícia de que o Governo Federal, por meio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), pretende desenvolver um “WhatsApp” nacional. Essa intenção, surgindo justamente agora neste momento de banimento de uma plataforma internacional, transmite mais uma mensagem alarmante. Por que criar um aplicativo de mensagens nacionais, do próprio governo? Esse tipo de iniciativa recorda quais modelos de Países?
Bem, caro (a) leitor (a), esse Estado faminto preocupa. Esse Estado que quer estar em todos os espectros da Sociedade, vigiando e determinando, e que deseja ser dominante é certamente o modelo mais fracassado e absurdo. E quando o Estado usa a força do judiciário para ser absoluto a gravidade é ainda maior. O que estamos vivendo está longe de ser normal. Precisamos parar de relativizar e entender o momento histórico pelo qual passamos: grave momento histórico.
Enquanto escrevia esse artigo, via e revia imagens das manifestações que foram realizadas neste 07 de setembro, dia da Nossa Independência. Vendo o povo na rua, consciente, se posicionando e buscando a superação do autoritarismo e do despotismo, nos traz esperança. Existem danos que já foram gerados e que nos custarão, como a perda de confiança do mercado externo. Mas existe ainda possibilidade de frearmos as sequelas.
O pesadelo do censurador é que ele jamais conseguirá censurar pensamentos. É nosso dever continuar pensando e expressando nosso pensamento. Assim, estamos contribuindo com o retorno da nossa democracia. E mostraremos para o mundo que nosso País ainda tem jeito. Como de fato tem! Sejamos protagonistas da cidadania que nossa Nação precisa para fugirmos do julgo de déspotas.
Leia outras colunas do Luís Mário Luchetta aqui.