Após a dissolução do Audioslave, o cantor e compositor Chris Cornell lançava seu segundo álbum solo, Carry On, em 28 de maio de 2007. Unindo a pegada grunge, o hard-pop da banda e vocais potentes, fez um dos melhores álbuns daquele ano. Com a produção impecável de Steve Lillywhite, mostrou ao mundo sua versatilidade musical sem perder o foco no rock’n’roll. Um álbum memorável.
No Such Thing, a abertura do álbum, é energética, com guitarras intensas e uma batida que remete ao peso do Audioslave, mas com mais melodia. A letra fala sobre frustração e a busca por autenticidade em um mundo cheio de ilusões. É um começo forte, estabelecendo o tom emocionalmente intenso do álbum.
Poison Eye é mais sombria e arrastada, com riffs densos. A canção traz um clima de paranoia e desconfiança. A interpretação de Cornell é carregada, quase teatral, reforçando a atmosfera sufocante da faixa.
Em Arms Around Your Love surge o lado mais melódico do álbum. Uma balada com pegada pop-rock, de refrão marcante e clima mais leve. A canção fala sobre amor e aceitação, funcionando como um respiro emocional após duas faixas mais densas.
Safe And Sound é outra balada, mas mais introspectiva e delicada. Cornell usa sua voz com suavidade. Os arranjos são sutis, com destaque para os violões e teclados, reforçando o aspecto intimista.
She’ll Never Be Your Man é uma canção com pegada soul e pop, onde Cornell adota uma interpretação mais descontraída. A letra, sarcástica e irônica, brinca com as expectativas de relacionamentos. Mostra um lado menos habitual do cantor, que se arrisca fora do rock tradicional.
Ghosts é melancólica e atmosférica e traz letras introspectivas sobre perdas e lembranças do passado. O arranjo é contido, permitindo que a dramaticidade vocal de Cornell seja o centro da canção. É uma das faixas mais emocionais do álbum.
Killing Birds é carregada de metáforas, combinando riffs pesados com uma batida forte, quase tribal. A energia volta ao álbum, mas sem perder a densidade lírica. O vocal de Cornell aqui é rasgado, lembrando sua fase no Soundgarden.
Billie Jean é uma das faixas mais controversas do álbum. Cornell transforma o clássico de Michael Jackson em uma versão lenta, sombria e minimalista. O resultado divide opiniões, mas mostra coragem criativa. Ele reinterpreta a canção de forma totalmente pessoal, explorando seu registro grave e dramático. Espetacular.
Scar On The Sky é uma balada com arranjo acústico e orquestral, de beleza delicada. É contemplativa e poética, com Cornell refletindo sobre cicatrizes emocionais. Uma das mais emocionantes do álbum.
Your Soul Today é mais animada, com groove marcado e influência de soul-rock. A letra é positiva, falando sobre aproveitar o presente. Funciona como contraponto mais leve dentro do conjunto de canções.
Finally Forever é uma das baladas mais sentimentais do álbum. O vocal de Cornell é suave e intimista, acompanhado por arranjos elegantes. É uma canção sobre permanência e entrega emocional, revelando seu lado mais romântico.
Silence The Voices traz de volta o peso, com riffs densos e clima quase grunge. Cornell canta sobre silenciar tormentos internos, em uma faixa intensa e visceral. Remete mais ao Soundgarden do que ao Audioslave.
Disappearing Act é mais experimental, com arranjos atmosféricos e uma levada lenta. A sensação é de transitoriedade, de algo que está se esvaindo. Funciona como faixa de transição, preparando o terreno para o encerramento.
You Know My Name é o grande single do álbum, conhecido por ser o tema do filme “007 Casino Royale”. É grandiosa, com orquestrações e vocais poderosos. Mistura rock e elementos sinfônicos, traduzindo bem o clima épico associado ao personagem. Fecha o álbum de forma triunfal.
Carry On é um álbum diversificado, que reflete a versatilidade de Chris Cornell em explorar estilos além do rock alternativo que o consagrou. O trabalho mescla momentos pesados com baladas emocionais, e mostra um cantor no auge de sua maturidade vocal. O álbum se destaca pela coragem de Cornell em se reinventar. De reinventar o rock’n’roll. O bom e velho rock’n’roll.
Leia outras colunas do Marcus Vidal aqui.