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FERNANDA GHIGNONE CABECA HOJESC

Cérebro na menopausa: o que muda durante a transição hormonal

Durante a perimenopausa e a menopausa, muitas mulheres sentem que algo muda, não apenas no corpo, mas também na mente. Essa fase envolve muitas alterações metabólicas, hormonais e neurológicas que impactam diretamente o funcionamento do cérebro. Uma dessas mudanças começa com a queda gradual do estrogênio, hormônio que exerce efeitos reguladores em diversos sistemas do organismo, inclusive o sistema nervoso central.

Os neurônios possuem receptores para o estradiol, a forma mais ativa do estrogênio. Quando os níveis desse hormônio diminuem, ocorre uma modificação na comunicação entre as células cerebrais. Isso interfere na produção e regulação de neurotransmissores como a serotonina, dopamina, glutamato e GABA, substâncias que controlam emoções, sono, foco, apetite e até mesmo a percepção da dor. A redução da serotonina, por exemplo, pode desencadear sintomas como tristeza, ansiedade, angústia, insônia, alterações cognitivas e até os fogachos, que são sintomas vasomotores relacionados à instabilidade do sistema nervoso.

Diante disso, a nutrição tem um papel essencial como suporte nessa fase. A produção de serotonina depende da ingestão adequada de triptofano, um aminoácido presente em alimentos como grão-de-bico, banana, castanhas e ovos. Suplementações específicas, quando necessárias, também ajudam, como o 5-HTP (precursor da serotonina), o magnésio (que modula a função neurológica), o metilfolato (importante na síntese de neurotransmissores) e o ômega-3, que melhora a plasticidade neuronal. Fitoterápicos como a Rhodiola rosea e a Withania somnifera podem ajudar em efeitos sobre o humor, fadiga e regulação do estresse.

Além da serotonina, outro neurotransmissor que sofre alteração é o glutamato. Em excesso, ele se torna neurotóxico, causando uma superestimulação dos neurônios. Isso contribui para sintomas como ansiedade, irritabilidade, dificuldade de foco, insônia, impulsividade e impaciência. A entrada excessiva de cálcio nas células nervosas, facilitada pela falta de estrogênio, também contribui para essa toxicidade, gerando a tão comum “névoa mental” e lapsos de memória.

Por outro lado, o GABA, neurotransmissor inibitório e calmante, também tende a diminuir durante a menopausa, o que agrava ainda mais o quadro de agitação mental. Algumas plantas medicinais podem ajudar nesse processo, como a Passiflora incarnata (flor do maracujá), a Melissa officinalis (erva-cidreira), a Lavandula angustifolia (lavanda) e a Matricaria chamomilla (camomila). Todas essas ervas têm propriedades ansiolíticas, que auxiliam no equilíbrio do sistema nervoso.

Outro ponto é a diminuição da produção de ATP, a molécula que fornece energia ao cérebro. Esse declínio compromete a eficiência neuronal e agrava o cansaço físico e mental. Estratégias nutricionais que estimulam a produção de corpos cetônicos, como a ingestão moderada de gorduras boas e a redução da carga glicêmica são positivas nesse processo. O uso pontual da dieta cetogênica, a introdução de gorduras monoinsaturadas (como azeite de oliva e abacate), e o jejum intermitente, desde que bem orientadas, podem melhorar a função cerebral.

Importante também destacar que a inflamação do sistema nervoso central aumenta nesse período, contribuindo para alterações de humor e sintomas depressivos. Para isso, adotar uma alimentação anti-inflamatória se torna essencial nessa fase da mulher. Alimentos ricos em antioxidantes, como frutas vermelhas, vegetais verdes escuros, azeite de oliva e fitoterápicos como a Curcuma longa (cúrcuma), ajudam a modular a inflamação e proteger os neurônios.

Com todos esses desafios na perimenopausa e menopausa é fundamental entender o impacto da transição hormonal sobre o cérebro para saber lidar. E com o suporte de uma equipe multidisciplinar, com nutricionistas e médicos capacitados para tratar com estratégias nutricionais, medicamentosas e fitoterápicas adequadas, é possível modular neurotransmissores, reduzir inflamações, recuperar energia cerebral e melhorar significativamente a qualidade de vida.

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