Bebo uma cerveja e um martelinho de cachaça, Tonhão destripa um cação. Dia de mormaço, ar espesso. Quase silêncio na birosca, só o zumbido da varejeira e o afiar da peixeira.
Para um carro, vem um sujeito. Bigodinho, magro, calça social, camisa de mangas, fala fina. Chegou agora na praia, penso. Pede camarão sete barbas. Tonhão larga a peixeira, lava as manzorras. Traz a travessa de camarões da geladeira, joga uma mãozada na balança, tira, põe. Dois quilos, tá na mão.
Fala fina tira um camarão do pacote. Examina contra o sol, bota o bicho no balcão. Esse não é sete barba. Tonhão está de volta ao cação. Como?
– Só tem cinco barba, olha aí.
Tonhão subiu o tom, velho pescador que era:
– O tipo deste camarão é sete barba, se tem cinco ou seis não importa.
– Quero com sete.
Tonhão, peixeira dançando na mão:
– Ele é chamado sete barba pelo tamanho, maior que os outros.
– Esse é cinco barba e pedi sete.
– Então devolve, não tenho sete barba.
– Ah, quis me enganar?
Tonhão fez gesto de subir no balcão, peixeira na mão direita. Fala fina recuou, a direita no bolso de trás da calça.
– Não vem que vai ter, gritou.
O peixeiro voou por cima do balcão, aterrrisou em cima do Fala Fina, a faca já cutucando o pescoço dele, as pernas na barriga magra do filho da puta.
– Quem quis enganar quem?
Veio o tiro, um furo no teto de zinco. Tonhão imobilizou o braço do safado, o berro rolou no chão. Falou enchendo os cornos do Fala Fina de perdigotos:
– Duas notícias pra você. Uma boa, outra ruim. A boa é que você não vai morrer. A segunda é que você vai virar capão.
Trocou de posição, os joelhos no peito, a bunda na cara do outro. Trouxe a arma para si, desabotoou a calça do infeliz, buscou lá dentro os bagos e atirou neles, no esquerdo primeiro.
As duas balas foram morrer no chão de terra batida. Fala Fina gritava ai ai ai, caraio.
Tonhão o puxou pelo cangote, as calças caídas prendendo as pernas em meio à sangueira e levou até o Celta parado em frente. Abriu a porta, enfiou o capado lá dentro, chutou a lataria:
– Se voltar aqui eu termino de fazer o serviço. Vou cortar seu pinto murcho.
Estou ali bebendo minha cerveja e a cachacinha. Pedi outra bem gelada, mais um martelinho.
– Tonhão, por que não usou a peixeira para cortar os bagos dele?
Ele, o cação quase destripado:
– A peixeira não é de uso em qualquer jaguara.