DESTAQUE DA REDAÇÃO
Pular para o conteúdo


ERNANI BUCHMANN CABECA hojesc

Camarão Sete Barba

Bebo uma cerveja e um martelinho de cachaça, Tonhão destripa um cação. Dia de mormaço, ar espesso. Quase silêncio na birosca, só o zumbido da varejeira e o afiar da peixeira.

Para um carro, vem um sujeito. Bigodinho, magro, calça social, camisa de mangas, fala fina. Chegou agora na praia, penso. Pede camarão sete barbas. Tonhão larga a peixeira, lava as manzorras. Traz a travessa de camarões da geladeira, joga uma mãozada na balança, tira, põe. Dois quilos, tá na mão.

Fala fina tira um camarão do pacote. Examina contra o sol, bota o bicho no balcão. Esse não é sete barba. Tonhão está de volta ao cação. Como?

– Só tem cinco barba, olha aí.

Tonhão subiu o tom, velho pescador que era:

– O tipo deste camarão é sete barba, se tem cinco ou seis não importa.

– Quero com sete.

Tonhão, peixeira dançando na mão:

– Ele é chamado sete barba pelo tamanho, maior que os outros.

– Esse é cinco barba e pedi sete.

– Então devolve, não tenho sete barba.

– Ah, quis me enganar?

Tonhão fez gesto de subir no balcão, peixeira na mão direita. Fala fina recuou, a direita no bolso de trás da calça.

– Não vem que vai ter, gritou.

O peixeiro voou por cima do balcão, aterrrisou em cima do Fala Fina, a faca já cutucando o pescoço dele, as pernas na barriga magra do filho da puta.

– Quem quis enganar quem?

Veio o tiro, um furo no teto de zinco. Tonhão imobilizou o braço do safado, o berro rolou no chão. Falou enchendo os cornos do Fala Fina de perdigotos:

– Duas notícias pra você. Uma boa, outra ruim. A boa é que você não vai morrer. A segunda é que você vai virar capão.

Trocou de posição, os joelhos no peito, a bunda na cara do outro. Trouxe a arma para si, desabotoou a calça do infeliz, buscou lá dentro os bagos e atirou neles, no esquerdo primeiro.

As duas balas foram morrer no chão de terra batida. Fala Fina gritava ai ai ai, caraio.

Tonhão o puxou pelo cangote, as calças caídas prendendo as pernas em meio à sangueira e levou até o Celta parado em frente. Abriu a porta, enfiou o capado lá dentro, chutou a lataria:

– Se voltar aqui eu termino de fazer o serviço. Vou cortar seu pinto murcho.

Estou ali bebendo minha cerveja e a cachacinha. Pedi outra bem gelada, mais um martelinho.

– Tonhão, por que não usou a peixeira para cortar os bagos dele?

Ele, o cação quase destripado:

– A peixeira não é de uso em qualquer jaguara.

Leia outras colunas do Ernani Buchmann aqui.