Brian Wilson, lenda da música e líder do grupo Beach Boys, morreu aos 82 anos. A informação foi confirmada pela família em uma publicação nas redes sociais, sem confirmar a data da morte.
“É com o coração partido que informamos que o nosso amado pai Brian Wilson faleceu. Estamos sem palavras neste momento. Por favor respeite nossa privacidade neste momento de luto”, diz a mensagem da família.
Considerado um gênio da música pop, Brian Wilson tinha sete filhos com três mulheres diferentes. Com sua última esposa, Melinda Ledbetter, com quem ficou por 28 anos, ele adotou cinco deles. Melinda morreu em janeiro do ano passado. Meses depois, o cantor foi diagnosticado com demência. No ápice de suas crises mentais, ele também chegou a ser diagnosticado com transtorno bipolar.
No final da década de 1980, Wilson desenvolveu tiques faciais, sintomas de uso excessivo de medicamentos psicotrópicos. Em 1984, os médicos diagnosticaram Wilson com esquizofrenia, encontrando também evidências de danos cerebrais causados pelo uso de drogas.
“Brian Wilson foi a cara da juventude americana do início dos anos 1960, é a definição perfeita do termo ‘alma torturada’”, escreveu o colunista Sérgio Martins no Estadão na época do diagnóstico da doença do artista.
“Desde cedo, foi atormentado por vozes que duvidavam de seu talento e diziam que ele tinha de se matar. Passou décadas à base de remédios até que, em maio passado, foi diagnosticado com demência e colocado sob cuidados dos filhos e empresários”, analisou Martins.
Brian Wilson
Nascido em 1942, Wilson teve uma infância problemática, repressiva por parte do pai Murry Wilson. Sofria com surras, que o deixaram parcialmente surdo de um ouvido, e procurou refúgio na música. Devido a esta lesão, Wilson desenvolveu o hábito de falar pelo canto da boca.
Beach Boys
Os Beach Boys foram fundados em 1961, na Califórnia, ancorados pela estética das praias da região. Ao longo da carreira acalmada do grupo, emplacaram sucessos como Good Vibrations, California Girls e Wouldn’t It Be Nice. A banda foi incluída no Hall da Fama do Rock em 1988. Em 2007, eles foram homenageados no Kennedy Center Honors, um dos prêmios mais notáveis dos EUA, por suas contribuições significativas à cultura americana.
Pet Sounds
O álbum Pet Sounds, de 1966, foi listado por várias publicações como um dos álbuns mais influentes da história da música. A excelência do disco, idealizado integralmente por Wilson, se deve uma a combinação de fatores que incluem a complexidade de suas harmonias vocais, a inovação instrumental e a profundidade emocional de suas letras, que exploravam temas como amor e perda. Os arranjos contaram com uma variedade de instrumentos e elementos de jazz e música clássica.
O álbum também influenciou os Beatles a criarem Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), considerada a maior obra-prima da música pop. Paul McCartney já afirmou diversas vezes que sua canção favorita é God Only Knows, um dos maiores hits do Pet Sounds.
Smile
Com a intenção de superar não apenas o Pet Sounds, mas também o Sgt. Pepper’s, Wilson criou o projeto SMiLE, projetado para ser uma inovação musical e lírica. Incorporando uma vasta gama de estilos musicais, desde o rock psicodélico até sons experimentais, Wilson e seu colaborador letrista Van Dyke Parks buscaram criar uma sinfonia pop que refletisse a complexidade da experiência americana. No entanto, devido a pressões internas da banda e problemas pessoais de Wilson, SMiLE foi abandonado em 1967. Apesar de seu status inacabado, o mito em torno do projeto persistiu, fascinando fãs por décadas, até que Brian Wilson finalmente lançou o aclamado Brian Wilson Presents SMiLE, décadas depois, em 2004.
A vida de Wilson foi retratada em Love & Mercy (2014), cinebiografia dirigida por Bill Pohlad. O filme se destaca por sua abordagem inovadora, alternando entre duas fases distintas da vida de Wilson: sua juventude nos anos 1960, interpretada por Paul Dano durante o período de criação de Pet Sounds, e sua vida mais madura nos anos 1980, encarnada por John Cusack, quando Wilson enfrenta desafios pessoais e de saúde mental.
Outros dois documentários recentes investigaram a trajetória do músico. The Beach Boys (2024; disponível no Disney+) é a visão do cineasta Frank Marshall e do documentarista Thom Zimny sobre a ascensão do grupo que Brian criou ao lado dos irmãos, Dennis e Carl, do primo Mike Love e do amigo Al Jardine – que temporariamente foi substituído por David Marks.
Em Long Promised Road (2021; disponível para aluguel na Amazon Prime), de Brent Wilson (sem parentesco), é um passeio do cantor com o jornalista Jason Fine pelos locais onde morou em Los Angeles. Há uma troca de ideias sobre a evolução da música do grupo, que evoluiu do iê-iê-iê para se tornar uma obra complexa.
Um dos 12 álbuns de sua carreira solo, In the Key of Disney (2009), foi composto por regravações de clássicos de filmes da Disney. A empresa rotulou o trabalho como a união “de dois homens que moldaram a imagem da Califórnia moderna – Brian Wilson e Walt Disney”.
Wilson compartilhou sua vida tumultuada e extraordinária na autobiografia Eu Sou Brian Wilson (Ed. Novo Século). Seu disco mais recente, At My Piano (2021), consiste em reinterpretações de seu vasto catálogo, feitas exclusivamente no piano.
Brian Wilson esteve apenas uma única vez no Brasil, em performance no Tim Festival, em 2004, realizado no Jockey Club, em São Paulo. O artista percorreu o mundo em turnês com sua banda solo até 2022.
Foto: Reprodução Instagram
Leia outras notícias no HojeSC.