Cada vez mais presentes nas prateleiras, nas redes sociais e nas conversas do dia a dia, os fitoterápicos, chamados de “medicamentos naturais”, ganham destaque como aliados da saúde. Eles prometem energia, imunidade, sono de qualidade, emagrecimento e até efeitos estéticos rápidos – tudo isso em cápsulas coloridas, chás aromáticos ou pós de preparo instantâneo. A facilidade de acesso e o rótulo de “natural” fazem com que muitas pessoas se sintam seguras para usar por conta própria, como se não houvesse riscos à saúde. A internet também contribui com receitas milagrosas que se espalham nas redes sociais e em grupos de mensagens sem qualquer embasamento científico.
Os fitoterápicos são produtos feitos a partir de plantas medicinais, com propriedades terapêuticas já estudadas e reconhecidas. Apesar disso, eles devem ser usados com cautela, pois cada planta possui substâncias ativas que agem no organismo de forma específica, podendo causar efeitos colaterais, interações medicamentosas e sobrecarregar órgãos importantes.
Um dos órgãos que pode ser afetado por essa automedicação natural é o fígado. Ele é responsável por metabolizar tudo o que ingerimos, incluindo alimentos, medicamentos e fitoterápicos. Quando sobrecarregado por doses elevadas ou combinações inadequadas, pode apresentar sinais de intoxicação, como enjoos, dor abdominal, cansaço excessivo e até alterações nos exames laboratoriais.
Entre alguns dos produtos naturais frequentemente utilizados estão a valeriana, a cúrcuma, o hibisco, a maca peruana, o morosil e o ginkgo biloba. Essas plantas medicinais têm princípios ativos com muitos benefícios para a saúde, porém é preciso ficar atento às contraindicações. A cúrcuma, por exemplo, pode potencializar o efeito de anticoagulantes. O hibisco, se usado em excesso, pode causar queda de pressão e não é indicado para pessoas com pressão baixa. O morosil, apesar da fama no emagrecimento, pode sobrecarregar o fígado e interferir em medicamentos para colesterol quando utilizado em altas doses. Até mesmo a canela pode ser contraindicada para gestantes e lactantes, por estimular contrações uterinas.
O uso indiscriminado de fitoterápicos pode trazer riscos, especialmente para grupos mais sensíveis, como gestantes, lactantes, crianças e idosos. Nessas fases da vida, é preciso atenção redobrada. Além disso, outro cuidado é com a interação medicamentosa, pois muitas plantas podem interferir diretamente na ação de medicamentos convencionais, como antidepressivos, ansiolíticos, anticoncepcionais, anti-hipertensivos, hipoglicemiantes e anticoagulantes. Essa interação pode reduzir a eficácia dos remédios ou potencializar seus efeitos.
A ideia de que utilizar o “natural” é mais seguro deve ser questionada. Afinal, o que define a segurança de um produto não é somente sua origem, mas o modo como é utilizado. Não é porque é natural que é totalmente inofensivo; não é porque é bom para um que será bom para todos. Mesmo o natural precisa ser tomado com cautela. A forma mais adequada de incluir fitoterápicos e suplementos na rotina é com o acompanhamento de um profissional habilitado, que avalie o histórico clínico, os exames e as necessidades individuais de cada paciente.
A boa notícia é que o uso correto dos fitoterápicos pode, sim, ser um ótimo aliado da saúde e no tratamento de diversas condições. Existem plantas com efeito comprovado para ansiedade, insônia, distúrbios hormonais, problemas digestivos e muito mais que, se utilizadas respeitando a individualidade e os critérios de segurança, não causam reações adversas como muitos medicamentos alopáticos. A fitoterapia, quando bem aplicada, é uma ferramenta poderosa.
Portanto, antes de utilizar um “remédio natural” indicado por alguém que não conhece sua saúde, procure orientação profissional. Nutricionistas e médicos especializados em fitoterapia estão aptos a avaliar a real necessidade de uso, escolher a planta adequada, definir a dose segura e acompanhar a resposta do seu organismo. E lembre-se: a ideia de que “se faz bem para um, faz bem para todos” é perigosa e pode causar mais prejuízos do que benefícios.
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