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DIREITO E JUSTICA FARRACHA CABECA hojesc

A Inteligência Artificial e a transformação digital das sociedades de advogados

A transformação digital nas sociedades de advogados tornou-se um imperativo competitivo, impulsionada pelas expectativas cada vez mais sofisticadas dos clientes e pela crescente demanda por eficiência operacional. Nesse contexto, a Inteligência Artificial (IA) representa um novo paradigma tecnológico, comparável, em termos de impacto, a marcos como a eletricidade, a internet ou os telefones celulares.

O AI Act da União Europeia (2024) define IA como “um sistema que, para um determinado conjunto de objetivos definidos pelo ser humano, pode gerar resultados como previsões, recomendações ou decisões que influenciam ambientes reais ou virtuais, utilizando abordagens baseadas em lógica, conhecimento ou aprendizado estatístico”.

Com base nessa definição, a IA tem sido gradualmente incorporada às rotinas jurídicas, com notável aceleração desde 2022. Entre as aplicações mais relevantes destacam-se: a pesquisa jurisprudencial por linguagem natural, a análise contratual automatizada, a identificação de cláusulas de risco e a realização de due diligence com maior rapidez e precisão. Ainda que essas ferramentas ampliem exponencialmente a capacidade analítica dos profissionais do Direito, seus resultados devem sempre ser validados por seres humanos qualificados. A IA, por ora, não substitui o advogado, mas o auxilia.

No combate a crimes financeiros, como a lavagem de dinheiro, a IA mostra-se útil ao identificar padrões suspeitos e desvios comportamentais com base em grandes volumes de dados. Contudo, também introduz riscos significativos, como as chamadas “alucinações algorítmicas” — respostas incorretas apresentadas com aparente segurança.

Do ponto de vista ético, os desafios são igualmente relevantes: o viés algorítmico pode perpetuar discriminações históricas; a tensão entre transparência e confidencialidade compromete o sigilo profissional; e a exclusão tecnológica pode gerar uma justiça em duas velocidades, aprofundando as desigualdades de acesso ao Direito.

Portanto, o maior desafio da IA não é técnico, mas humano. Adaptar equipes jurídicas tradicionais aos novos paradigmas tecnológicos requer gestão da mudança, desenvolvimento de competências digitais e a manutenção do relacionamento interpessoal como valor central na prática jurídica.

Em síntese, o futuro aponta para a consolidação de perfis profissionais híbridos, que combinem competências jurídicas e tecnológicas, e para o uso da Inteligência Artificial como ferramenta de amplificação do raciocínio jurídico — porém, jamais como substituta da atuação humana e do estudo do direito.

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