No universo das empresas familiares, compreender a diferença entre empresariar e gerir é essencial para garantir a longevidade e o equilíbrio do negócio. Embora muitas vezes essas funções se confundam, especialmente em empresas onde o fundador ainda está à frente das operações, elas exigem habilidades e visões distintas.
O que temos visto ao longo do nosso trabalho é que nas empresas familiares o fundador tende a acumular os papéis de empresário e gestor. No entanto, a tendência é chegar um momento em que essa sobreposição tende a limitar o crescimento e a profissionalização do negócio. E isso pode se agravar após a sucessão da primeira para a segunda geração, especialmente se o sucessor não tiver bem internalizada a diferença entre os dois papéis.
O papel de empresariar está ligado ao impulso empreendedor do fundador. O empresário é quem detecta oportunidades, assume riscos e estabelece a direção estratégica do negócio. É ele quem sonha, ousa e traça o caminho futuro da empresa, muitas vezes movido por propósito e coragem.
Já o papel de gestão é outro: trata-se da administração do dia a dia da empresa, com foco em processos, controle, eficiência e resultado. O gestor — que pode ser um membro da família preparado para isso ou um profissional contratado — precisa organizar a estrutura, coordenar equipes, tomar decisões baseadas em dados e garantir que a operação funcione dentro de padrões sustentáveis. Ou seja, vai implementar o que foi idealizado pelo empresário, traduzindo essa visão em ações práticas que visam manter a estabilidade dos negócios e a sustentabilidade da empresa.
Empresariar envolve risco e visão de longo prazo, com decisões que são estratégicas para o negócio. Por outro lado, o gestor atua com foco no presente, no curto e médio prazo, utilizando ferramentas de análise e planejamento para reduzir riscos e maximizar resultados. Outro ponto crítico em empresas familiares é a cultura empresarial, frequentemente moldada pelos valores do fundador. Essa cultura — que mistura crenças pessoais, costumes familiares e visão de mundo — é um ativo valioso, mas também precisa ser transmitida e operacionalizada por quem faz a gestão. Cabe ao gestor preservar e fortalecer essa cultura no dia a dia, garantindo alinhamento entre os colaboradores e os objetivos da empresa.
No contexto da sucessão, a clareza entre empresariar e gerir se torna ainda mais urgente. Muitos herdeiros são preparados para assumir a gestão, mas não necessariamente têm o perfil para empresariar. Da mesma forma, há empresários que resistem em delegar a gestão, prejudicando a continuidade e profissionalização do negócio. Nossa experiência tem mostrado que o sucesso de uma empresa familiar está justamente na harmonia entre esses dois papéis. Quando o fundador entende o momento de empresariar mais e gerir menos, e quando há gestores capacitados para conduzir o negócio com profissionalismo, a empresa ganha força para atravessar gerações.
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