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ELIZABETH TITTON CABECA hojesc

A casa

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Temos nos questionado, aqui, sobre a importância da arte em nossas vidas e, hoje, gostaria de lembrar do lugar que nos protege, nos acolhe e onde passamos grande parte de nossas vidas: nossas casas, tanto as privadas como as públicas, que nos abrigam como família ou comunidades e que permitem atividades específicas, como as igrejas, os museus as escolas, prédios governamentais, entre outros, e os materiais, que tem sido usados para construí-los através dos tempos.

"Palm House" no Kew Gardens - Londres - Foto de David Iliff-Licença:CCBY-SA 3.0 - Wikimedia Commons.
“Palm House” no Kew Gardens – Londres – Foto de David Iliff-Licença:CCBY-SA 3.0 – Wikimedia Commons.

A arquitetura, tendo como finalidade criar e organizar os espaços para uma determinada atividade, através dos tempos tem se utilizado de uma variedade de materiais para cumprir seus objetivos, desde as palhas para a construção das tabas, compostas de ocas na nossa floresta amazônica, aqui no Brasil, tendo passado pelas pirâmides do Egito, que por sua vez abrigavam os mortos com suas pedras gigantescas. Elas nos lembram que a madeira, os tijolos de barro, a pedra, o metal, o vidro e, depois, o concreto e, mais recentemente, materiais sintéticos, revelam a criatividade do homem em sua busca de resolver, com arte e elegância, questões técnicas de qualidade e segurança para receber nossas mais diversas atividades.

Poderíamos ter nos conformado com um teto sobre as nossas cabeças e paredes para nos proteger do frio e das intempéries, mas, cumprir a finalidade básica do abrigo não nos basta. Queremos inovar, explorar as formas, os materiais, suas resistências, suas belezas, seus limites. Como sempre: a capacidade de mostrar, ao mesmo tempo, a diversidade de soluções e o olhar único de cada criador, leva os construtores, muitas vezes, a sonhos insanos, que ao serem realizados, mudam realidades e culturas. Não basta criar, precisamos nos expressar por meio dessas criações, apresentando qualidade, novidade e encantamento.

"Palm Islandas" - Dubai- Fonte: Shutterstock/Delpixel.
“Palm Islandas” – Dubai- Fonte: Shutterstock/Delpixel.

Obras como a estações de trem construídas pelo mundo em aço e vidro, como a Gare do Oriente em Lisboa, em Portugal (1998), com seu telhado ondulado, ou os “Reais Jardins Botânicos de Kew”, em Londres ( Patrimônio Mundial da Unesco), entre outros exemplos, como as nossas igrejas barrocas, em Minas Gerais, ou as ilhas artificiais, como “Palm Island”, em Dubai, ou o Aeroporto Internacional de Kansai, em Osaka no Japão, invadem espaços naturais para utilizações humanas e nos fazem perceber essa necessidade de ir além, em cada período. Na China, cada vez mais, podemos perceber a convivência entre a simplicidade da vida rural, na agricultura, interagindo com novíssimos conceitos de tecnologia, por vezes usando materiais simples, como a madeira e a pedra, e outras, produtos novos com alta tecnologia.

Ousar, criar, ocupar são atividades humanas que ultrapassam os limites do cotidiano, o que nos faz pensar que não gostamos muito de limites. Estamos sempre tentando fugir das “quatro paredes” da casa segura. O confinamento não é coisa que apreciemos, embora, em nosso país, estejamos cada vez mais fechados em shoppings, condomínios telados e cercados por motivos de segurança. O que é uma enorme contradição.

"Sun Tower"- Torre de 50 metros - estudio aberto - a forma cônica tem por objetivo seguir a rota do sol - Yantai - China.
“Sun Tower”- Torre de 50 metros – estudio aberto – a forma cônica tem por objetivo seguir a rota do sol – Yantai – China.

Desde os grandes prédios-monumento, até as casinhas nas aldeias africanas, pintadas à mão, ou a cada escolha que fazemos quando organizamos nossas novas casas, locais de trabalho, nossos espaços de habitação, com o maior carinho, buscando colocar em cada canto referências que são parte e continuidade de nossos corpos e personalidades, a arte importa, e tanto mais importará na medida em que pudermos nos manter humanos, livres, parte de uma grande comunidade que, hoje, habita o nosso pequeno planeta, nossa casa azul.

(Ilustração de abertura: Oca do cacique da aldeia Morená – Povo Kamaiurá – Imagem  Gil Alessi/UOL.)

Leia outras colunas da Elizabeth Titton aqui.