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Já que estamos falando em eleições, como são as eleições na CBF?

GLENN STENGER CABECA hojesc

O assunto do momento no Brasil é o processo eleitoral. Mas aqui, no nosso espaço, tratamos de futebol. E o nosso esporte não foge dessa realidade. Há sim a tratativa eleitoral em todos os clubes associativos (aqueles que ainda não se transformaram em SAF), nas federações estaduais e na confederação brasileira.

Não vamos tratar aqui dos processos em clubes e nas federações regionais. Cada qual guarda peculiaridades e particularidades que não nos permitem opinar de maneira generalista.

Também lembremos que estamos no Brasil. O país do “jeitinho”, do “tudo pode”, da insegurança jurídica, da falta de seriedade e dos conchavos. Seria ruim demais para os “gestores” de um business que gera tanto dinheiro quanto o futebol, que o processo político interferisse na sua condução.

Criou-se, então, o “maravilhoso” modelo eleitoral da CBF. O modelo que “garante a democracia plena”, dando voz e vez a todos os envolvidos no processo.

A maquiagem desse modelo (que já perdura há décadas) o faz parecer justo. A execução é exatamente contrária ao que se espera de um modelo que garanta renovação, atualização e melhorias à confederação.

Funciona assim: as federações regionais, que agregam todas as ligas e equipes de seus estados, tem peso 3 na votação. Afinal representam a totalidade do ecossistema do futebol. Os clubes da primeira divisão (divisão mais importante), tem peso 2 na votação. Os clubes de segunda divisão, tem peso 1 na votação.

E assim se forma o colégio eleitoral da CBF. Modelo perfeito e justo, não é mesmo?

Aí entra o “fator Brasil”. Já falamos inúmeras vezes, aqui em nosso espaço, que a CBF gera mais de um bilhão por ano. Ninguém quer perder a chance de controlar todas essas cifras.

Todos os meses os representantes de cada federação recebem (por serem presidentes das mesmas) polpudos repasses em suas contas. Um “pró labore”. E aí pergunta-se: qual desses representantes ousa votar contra qualquer processo, projeto, sugestão que vem lá de cima, do comando da confederação? Seria um tiro no pé, perderia sua fonte de receita.

E o modelo foi criado justamente para isso. 26 estados somados ao Distrito Federal (todos com peso 3) dão 81 pontos. Os times de série A (são 20) conseguem fazer (com peso 2) 40 pontos. Os times de série B (são 20) conseguem fazer (com peso 1) 20 pontos.

Ou seja. Por mais que as equipes das séries A e B se unam em torno de um propósito, chegariam aos 60 pontos. As federações sozinhas sempre terão a maioria absoluta (81 pontos). E sempre serão “abastecidas” pelo dinheiro da CBF. Não ousarão levantar qualquer bandeira contrária aos interesses defendidos pela confederação.

A coisa fica ainda mais difícil de ser entendida quando colocamos na balança federações estaduais sem qualquer representatividade no esporte. Federações como do Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Piauí, Paraíba, Tocantins. Sem demagogia, nesses estados o futebol quase inexiste. É próximo ao amadorismo. E, mesmo assim, só com os votos dessas 7 federações já se anulam todos os votos da série B, por exemplo. Ou mais da metade dos votos da série A…

O texto de hoje procurou ser bem didático. Se alguém imagina que teremos uma CBF profissionalizada, dinâmica, atualizada, pode “tirar o cavalinho da chuva”. Veremos mais do mesmo por muitos anos ainda.

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