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Tirantes de cordoalha

ERNANI BUCHMANN CABECA hojesc

Trata-se de uma placa, dessas que empresas de engenharia pespegam em tapumes de obra. Está lá, com todas as letras: tirantes de cordoalha em paredes diafragma. Fico a imaginar a quem serviria tal informação. Ao homem comum, não seria. Talvez a quem vá instalar sua loja no local, posto o tapume esconder a construção de um shopping center.

Um lojista poderia comentar com outro:

– Vou abrir minha loja ali por serem os tirantes de cordoalha.

– Em paredes diafragma? – perguntaria o interlocutor.

– Sim, alta tecnologia.

Aqui para nós, o que quer dizer mensagem tão incompreensível? Por que comunicar algo que ninguém irá entender? Quem sabe a patognomonia explique. E antes que me acusem de enigmático como o autor da placa, adianto ser o estudo dos sinais ou sintomas característicos das doenças. A placa é sinal patognomônico. O autor sofre de alguma doença nos terminais vernaculares, pela qual supõe serem todos obrigados a entender sua linguagem técnica, não importando a obscuridade existente.

Jargões técnicos são características de profissões diversas. Engenheiros, médicos, economistas e advogados manifestam sinais preocupantes da síndrome. O linguajar barroco-rococó faz a alegria de muitos luminares, “inobstante” o texto rebarbativo, traço pernóstico a tentar provar a excelência do componente do seu grupo. Entre os seus, vá lá. Mas estender a tecnicidade à leitura dos leigos, não se justifica.

Em boa hora o Conselho Nacional de Justiça lançou uma campanha visando adotar a linguagem simples em petições, sentenças e acórdãos jurídicos. É de se esperar que gere bons resultados. Escrever, mais que aptidão, é exercício que pressupõe paciência, treino diário e inspiração. Bons textos são feitos de clareza e concisão. Texto prolixo, pro lixo.

Já a placa dos tirantes de cordoalha, com toda a admiração pelos engenheiros que constroem maravilhas neste planeta, não merece absolvição. A mim sugerem ser artigos à venda em lojas pornô, acessórios para indivíduos com tendências sadomasoquistas.

Vou perguntar ao Jaime Sunye, que além grande mestre internacional de xadrez é engenheiro de primeira linha, esperando que elucide tal questão – pouco importante, embora tenha me motivado a escrever esta crônica.

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