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ELIZABETH TITTON CABECA hojesc

Os casais

Deus orientou Noé a construir uma arca, que levasse sua família e um casal de cada espécie dos seres viventes sobre a Terra, animais e plantas, para que pudessem repovoar o mundo depois do dilúvio que viria para acabar com toda a iniquidade que existia naqueles tempos. Assim foi feito, por ele e os seus, e consta no Genesis (capítulos 6 a 9), que a arca navegou durante o tempo das águas até encalhar no Monte Ararate, onde, ainda hoje, se busca por vestígios de sua existência.

 

"Satã observando o amor de Adão e Eva" - William Blake (1757-18270) - Museu de Belas Artes de Boston.
“Satã observando o amor de Adão e Eva” – William Blake (1757-18270) – Museu de Belas Artes de Boston.

 

Tudo havia começado com Adão e Eva. Quando Deus criou o homem, a partir do barro, e achou que ele não deveria fica só, decidiu que, enquanto Adão dormia – cansado após dar nome aos animais – do osso de suas costelas, deveria criar a mulher, sua companheira, sua igual, saída do seu lado, do seu osso, da sua carne, e assim o fez.

Desde então, nós, oriundos da cultura judaico cristã, nos vemos às voltas com as formações de casais, para gerar novas famílias, já que a ordem tinha sido “crescei e multiplicai-vos” (Genesis 1:28). Muitas são as dúvidas e as questões que foram surgindo, com o passar do tempo, na mente do homem, filho ousado e rebelde de seu criador, sempre em busca, talvez, do Paraiso, de onde foi expulso por sua desobediência. Nessa busca, de tempos em tempos, transformações tem acontecido e nem sempre os casais que hoje se formam são como aqueles que tinham como finalidade fundamental procriar para povoar e dominar a Terra.

 

Detalhe do Parque Vigeland - Gustav Vigeland (1860-1943) - Escultura em granito - foto de Godot13 - Wikipedia.
Detalhe do Parque Vigeland – Gustav Vigeland (1860-1943) – Escultura em granito – foto de Godot13 – Wikipedia.

 

Assim também na arte, os casais são representados das mais diversas maneiras através dos tempos. É um tema riquíssimo, que aqui farei representar por uns poucos exemplos de minha preferência pessoal. Dentre eles, encontram-se as magníficas obras esculpidas em granito e fundidas em bronze pelo Norueguês Gustav Vigeland (1869-1943), que podem ser vistas em Oslo, no Vigerland Park, que me foi apresentado por minha filha Louise, quando foi viver sua experiência de intercambio nesse país, a Noruega. O parque de esculturas fica localizado dentro de outro parque, denominado Frogner, que fica próximo ao centro de Oslo, em uma área de 320.000 metros quadrados. Composto por 212 esculturas em bronze e granito, as obras formam grupos monumentais que remetem à existência humana, desde seu nascimento até sua morte. Tanto em seu conjunto, quanto na individualidade, as peças de pedra ou bronze são de uma beleza e qualidade estética impressionantes.

Outro exemplo de casal que trago aqui é uma das esculturas apresentadas em um catálogo de exposição, presente que recebi da minha própria “mãe” de intercambio, a querida Dorothy Haley, hoje nos seus mágicos 105 anos de idade, vivendo na cidade de Los Angeles, na Califórnia, onde aconteceu a rara exposição “Escultura Expressionista Alemã”, catalogada no Los Angeles County Museum of Art, de 30 de outubro de 1983 a 22 de janeiro de 1984. A mostra, bem como seu catálogo, apresentou obras raras, muitas das quais já não mais existiam, mas nos foram apresentadas por fotografias, compartilhando assim o rico legado daqueles que se expressaram de forma tão impressionante, tanto em seu próprio tempo como ainda hoje, gerando fortes sentimentos nos seus observadores. Dentre os artistas que ali figuram, Hermann Scherer (1893-1927), autor de “Lovers”, (1926), esculpida na madeira da frondosa árvore por nós conhecida como Tília. Era de origem suíça e é apresentado, tanto na mostra como no catálogo, ao lado de seu amigo e artista, o também suíço Albert Müller (1897-1926), juntamente com Ernst Ludvig Kirchner (1880-1938), outro suíço, inspirador de ambos.

 

"Lovers" - Hermann Scherer - madeira de Tilia policromada- (1926) -  medindo 53,5x125x51 cm - Museu de Arte de Basel.
“Lovers” – Hermann Scherer – madeira de Tilia policromada- (1926) – medindo 53,5x125x51 cm – Museu de Arte de Basel.

 

Assim, em toda a sua diversidade, na arte e na vida, acontecem os casais, que desde que foram criados no mundo, lutam para cumprir sua função primordial que é a de se reproduzir e continuar existindo e dominando a Terra. À arte, além de ser expressão desses viventes, cabe documentar, criar leituras e inventar maneiras de falar sobre assunto tão sensível, pulsante e inesgotável.

(Ilustração de Abertura: ” Arca de Noé”- Edward Hicks – 1846 – óleo sobre tela. Wikipedia.)

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