Pular para o conteúdo
MARCUS VIDAL CABECA hojesc

The Verve e o britpop melancólico

A banda The Verve surgiu em 1989, na cidade de Wigan, na Inglaterra. Com Richard Ashcroft, vocais e guitarra, Nick McCabe, guitarra, Simon Jones, baixo, Simon Tong, guitarra e teclados e Peter Salisbury, bateria. Após dois álbuns de pouca repercussão, lançaram seu terceiro álbum, Urban Hymns, em 29 de setembro de 1997, alcançando enorme visibilidade e vendendo mais de 7 milhões de cópias, se tornando uma das bandas inglesas mais ouvidas entre 1997 e 1999.

The Verve e o britpop melancólico

 

A faixa de abertura, Bitter Sweet Symphony, é icônica. Construída sobre um loop de cordas retirado de uma versão orquestral da canção “The Last Time” dos The Rolling Stones, a canção se tornou um hino moderno. A letra expressa alienação existencial: “You’re a slave to money then you die”, enquanto os arranjos em espiral criam uma atmosfera épica. A produção grandiosa combina elementos sinfônicos com uma base rock tradicional, tornando a canção ao mesmo tempo melancólica e triunfante.

Sonnet é uma canção de amor com estrutura clássica, melodia doce e letra poética. Richard Ashcroft canta com emoção contida, e o instrumental suave reforça a introspecção da faixa. Há uma clara influência de baladas dos anos 60, com guitarras limpas e discretas camadas de teclado. “Yes, there’s love if you want it, Don’t sound like no sonnet, My lord”.

Com The Rolling People o álbum entra em um território mais psicodélico e enérgico. Riffs distorcidos, batida intensa e vocais mais soltos mostram o lado mais agressivo da banda. A canção parece flertar com o rock alternativo americano, mas mantendo a identidade britânica em suas texturas espaciais.

The Drugs Don’t Work é uma das canções mais dolorosas do álbum. Escrita sobre a perda do pai de Ashcroft, mistura luto, resignação e beleza. “Now the drugs don’t work, They just make you worse” é uma linha crua e poderosa. O arranjo de cordas, delicado, acompanha os vocais emocionados e dá à canção uma aura fúnebre, quase sacra.

Em Catching The Butterfly a atmosfera se torna mais etérea. A faixa tem uma levada hipnótica, com baixo pulsante e guitarras em delay. É uma das canções mais atmosféricas do álbum, remetendo a Pink Floyd e ao shoegaze. As letras são mais abstratas, evocando a busca por algo inatingível.

Neon Wilderness é uma vinheta que mergulha fundo na psicodelia. Com sons distorcidos, percussões tribais e ambiências nebulosas, é uma pausa quase alucinatória no disco. Funciona como uma ponte sensorial entre as faixas anteriores e as próximas.

Space And Time volta ao formato de canção pop-rock melódico. A melodia é envolvente, com guitarras em arpejo e refrão forte. A letra fala de crescimento, distância emocional e autoconhecimento. “We’ve got space and time, In the end there’s only us”.

Weeping Willow é mais uma faixa cadenciada e hipnótica. O vocal é quase sussurrado, e a linha de guitarra cria uma ambiência fantasmagórica. A tristeza é contida, mas latente. É uma canção sobre solidão e vigilância interna, com tons góticos discretos.

Com clima leve, Lucky Man é uma das faixas mais acessíveis do álbum. Os arranjos são simples, com guitarras acústicas e uma melodia espetacular. A canção é sobre estar em paz com o momento presente. O refrão é otimista contrastando com a introspecção do restante do álbum. “But how many corners do I have to turn? How many times do I have to learn? All the love I have is in my mind? Well, I’m a lucky man, With fire in my hands”.

One Day é uma balada com forte carga emocional. A construção instrumental é lenta, com entrada progressiva de camadas. O vocal de Ashcroft soa vulnerável, como um homem tentando se manter firme diante do caos.

This Time tem um ritmo um pouco mais animado, com bateria marcante e progressões harmônicas pop. Fala sobre decisões e mudanças inevitáveis.

Velvet Morning é outra incursão onírica, suave e melancólica. A canção remete à sensação de acordar em um estado alterado, a “manhã de veludo” sugerida no título. Os instrumentos são sutis, e a atmosfera é introspectiva, como uma névoa musical.

Come On fecha o álbum com explosão. Após tantas faixas lentas e profundas, essa é uma catarse. Guitarras pesadas, vocais gritados, batida intensa. A banda despeja sua energia residual num encerramento catártico. É um lembrete da veia roqueira do grupo.

Urban Hymns é uma obra-prima emocional. Mescla grandiosidade e introspecção com maestria. O álbum elevou o The Verve ao status de lenda do britpop. E embora tenha sido o último disco da banda em sua formação clássica, marcou definitivamente a música britânica dos anos 1990. Marcou o rock’n’roll. O bom e velho rock’n’roll.

Leia outras colunas do Marcus Vidal aqui.