Pular para o conteúdo
SILVIO LOHMANN CABECA hojesc

O desafio brasileiro com as emissões de metano

metano

As emissões de gás metano no Brasil cresceram 6% entre 2020 e 2023, chegando a 21,1 milhões de toneladas — o segundo maior nível já registrado no país. O dado, do Observatório do Clima, indica que o principal responsável pela alta está no pasto: a fermentação entérica, o popular “arroto do boi”.

A pecuária respondeu por 14,5 milhões de toneladas de metano em 2023. Em efeito climático, isso equivale a 406 milhões de toneladas de CO2. É mais do que todas as emissões de gases de efeito estufa da Itália no mesmo ano.

O problema é que o metano é muito mais nocivo que o CO2. Embora permaneça menos tempo na atmosfera (entre 10 e 20 anos), cada molécula tem potencial de aquecimento 28 vezes maior em um horizonte de 100 anos.

O Brasil aderiu ao Compromisso Global do Metano (COP26, Glasgow), no qual mais de 150 países prometeram reduzir em 30% as emissões globais até 2030, com base em dados de base 2020. Mas, segundo o Observatório, o país — 5º maior emissor de CH4, atrás de China, EUA, Índia e Rússia — ainda não colocou em prática ações consistentes para cumprir a meta.

Soluções para o “arroto”

Em entrevista ao Observatório, Gabriel Quintana, analista de ciência do clima da ONG Imaflora, afirmou que o Brasil pode cortar mais de um quarto do metano gerado nos pastos até 2035 (base 2020), “mesmo mantendo o crescimento do rebanho”. Para isso, defende o uso de técnicas já existentes, como melhorar a dieta animal, reduzir o tempo de abate do gado de corte e investir em melhoramento genético dos rebanhos de corte e leite, entre outras estratégias que aumentam a produtividade dos sistemas.

Potencial do florestamento (I)

Plantar árvores é uma das estratégias para enfrentar a crise climática. Mas um estudo de pesquisadores da Universidade Sun Yat-sen (Taiwan), publicado na revista Science, mostra que o potencial real para novos plantios e reflorestamento pode ser bem menor do que se imaginava. O mundo teria cerca de 389 milhões de hectares disponíveis, capazes de sequestrar 39,9 bilhões de toneladas de carbono até 2050 — muito abaixo de estimativas anteriores. Considerando compromissos políticos já existentes, a área e o volume de captura caem para 120 milhões de hectares e 12,5 bilhões de toneladas de CO2.

Potencial do florestamento (II)

O estudo usa mapas globais que mostram como o carbono do solo responde ao florestamento — com ganhos e perdas, especialmente na camada superficial. A pesquisa também considera restrições importantes, como o albedo (reflexo da radiação solar), a proteção da biodiversidade já existente e a segurança hídrica. A conclusão: o mundo precisa de mais árvores, mas será indispensável vontade política e técnica para ampliar, com responsabilidade, as áreas destinadas a novas florestas.

Pontos cegos do solo

Um estudo da Esalq/USP e do CCARBON, publicado na Communications Earth & Environment (Nature), analisou 32 mil artigos sobre ameaças ao solo. O resultado impressiona: 60% das pesquisas vêm de apenas cinco países (China, EUA, Índia, Brasil e Espanha). África, América Central, Oriente Médio e Sudeste Asiático seguem como “pontos cegos” da ciência do solo. As regiões mais vulneráveis à perda de biodiversidade e à mudança no uso da terra — motores da crise climática — são também as que menos têm pesquisas sobre saúde do solo. Para o professor Maurício Cherubin (Esalq/USP), é um paradoxo: “Como avançar em segurança alimentar e clima sem dados das áreas mais afetadas?”.

H2V para descarbonizar a indústria

O Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou o resultado da chamada pública para selecionar hubs de hidrogênio de baixo carbono (H2V). Foram escolhidas cinco propostas com alto potencial de implementação até 2035, que passam a integrar o Plano de Investimentos do Brasil no Climate Investment Funds – Industry Decarbonization (CIF-ID), que destinou ao país US$ 250 milhões para acelerar a transição energética e descarbonizar setores industriais de difícil abatimento. Projetos selecionados: H2Orizonte Verde – CSN (RJ); Hub de H2V de Camaçari – Neoenergia (BA); B2H2 – Copel GET (PR); Uberaba Green Fertilizer – Atlas Agro (MG); Hub de Hidrogênio e Amônia – Cemig GT (MG).

Licença e devastação

O chamado PL da Devastação (PL 2159/21), que altera regras de licenciamento ambiental e é apontado por ambientalistas como o maior retrocesso na área em 40 anos, recebeu 63 vetos do governo federal e desagradou parte do Congresso. Em paralelo, o Planalto editou a MP 1308/25, que trata da Licença Ambiental Especial (LAE), para evitar desgastes maiores. Não adiantou muito: até a última segunda-feira, deputados e senadores apresentaram 833 emendas à MP, recriando trechos do projeto aprovado e vetado. O Observatório do Clima alerta ainda para “jabutis” que fragilizam o Código Florestal e a Lei da Mata Atlântica.

(Foto: Ryan Song/Unsplash)

Leia outras outras colunas do Silvio Lohmann aqui