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EDITORIAL

PEC da Blindagem: o Congresso brasileiro não tem limites nem tampouco vergonha na cara

acordo politico barroco

O Brasil assistiu ontem, mais uma vez, à cena repetida de um Congresso que parece não se intimidar com nada. Nem com a opinião pública, nem com os limites constitucionais, nem com a própria vergonha. A aprovação da chamada PEC da Blindagem, que restringe a possibilidade de processos e prisões contra parlamentares, é um retrato fiel da cultura política nacional: a certeza da impunidade como regra e o interesse corporativo acima de qualquer consideração republicana.

Não houve hesitação, tampouco constrangimento. Mesmo diante da rejeição social evidente, os deputados avançaram sobre um projeto que lhes garante mais segurança contra a Justiça. A mensagem é clara: pouco importa se o eleitor reprova, se a sociedade clama por responsabilidade, se a democracia exige transparência. Blindados, eles seguem adiante, convictos de que nada os atinge.

Mais grave ainda é a tentativa, já em curso, de reincluir o voto secreto na proposta — mecanismo derrotado em plenário, mas que o Centrão insiste em ressuscitar, como se o resultado democrático fosse apenas um detalhe a ser contornado. É o escárnio em sua forma mais explícita: perdem uma votação e, sem rubor, preparam uma manobra para refazê-la, até que o desfecho lhes seja favorável.

Essa insistência não é apenas afronta ao Parlamento, mas um tapa na cara do eleitor. Revela uma casta política que não teme o julgamento popular e que não se sente obrigada a responder à moralidade pública. Para eles, tudo pode ser revertido, ajustado, manipulado, desde que o resultado preserve seus privilégios.

O Congresso brasileiro demonstra, mais uma vez, uma desfaçatez sem limites. Perderam o pudor, perderam a vergonha e perderam, sobretudo, a noção de que representam uma sociedade que clama por integridade. Não é exagero dizer que a PEC da Blindagem simboliza um divórcio cada vez mais explícito entre representantes e representados.

Ao blindarem-se contra a Justiça, os parlamentares expõem, sem máscaras, o Brasil que se acostumaram a governar: um país em que a impunidade é norma, a ética é descartável e a vontade popular é, quando muito, um incômodo passageiro.

A história registra momentos em que a política se agiganta, ouvindo a voz das ruas e ajustando-se às exigências da República. Ontem, infelizmente, assistimos ao contrário. O Poder Legislativo se apequenou, curvou-se a si mesmo e deixou clara a lição que transmite aos brasileiros: neste Congresso, não há medo, não há vergonha, não há limites.

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