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GLENN STENGER CABECA hojesc

A profissão de “olheiro” já era!

Futebol e dinheiro se interligam. Fato claro. Boa parte desse dinheiro vem da revelação de novos talentos. Isso também é inegável. Como então fazer com que se maximize essa entrada de recursos nos caixas dos clubes?

A resposta é uma só: banco de dados!

Vamos às explicações. Há algumas décadas, o processo de análise de jogadores para introdução em categoria de base era totalmente empírico. Espalhavam-se profissionais (os chamados “olheiros”) por campos e quadras país afora. Aí eles, com seus “olhos clínicos”, traziam os melhores, os destaques, para treinar no clube.

É até óbvio que os “olheiros” sabiam as características que chamavam a atenção nos atletas. Sabiam quais as valências necessárias. E conseguiram sim revelar muitos talentos. Mas tudo isso em um futebol diferente, mais amador, e totalmente desigualado em nível de qualidade dos atletas.

Agora, em 2025, as qualidades técnicas se equivalem. Pouquíssimos (extremamente raros) são os jogadores que possuem destaque absoluto. Não temos mais Zicos, Pelés, Ronaldos, Romários, etc. São todos meio que “iguais”. Desafio a encontrar, por exemplo no campeonato brasileiro, um jogador apenas que seja desses craques inquestionáveis como antes conhecíamos.

Aí entra o banco de dados. Os jogadores hoje não chegam ao clube por conta de “olheiros”. Vem por conta da análise de seus desempenhos, acompanhados por processos científicos modernos.

Na semana passada conheci a fundo empresa que faz a captação desses dados. Desde o moleque de 12, 13 anos até o já profissionalizado que ainda não está desempenhando 100%.

O processo é até “simples”. Câmeras são instaladas durante os treinos e jogos. Os dados dessas câmeras são condensados e avaliados. De TODOS os atletas, de TODAS as posições e em vários jogos e treinos para que não se tenha uma avaliação errônea, nem para menos e nem para mais.

Aí planifica-se tudo. Velocidade média, velocidade de condução de bola, arranque, posicionamento, impulsão, relação de força x idade, distância percorrida, biotipo, reflexos, visualização de jogo. Junta-se a isso tudo, nessa planificação, os dados que não estão no campo e que fazem parte importante do relatório do atleta, tais como: idade em que começou a treinar, equipes pelas quais já treinou/jogou, eventuais mudanças de posição durante o processo e histórico de lesões.

Disso tudo sai um compilado. E, desse compilado, saem nomes que melhor se adequam às características que a categoria de base da equipe necessita. E, a partir daí, começa o processo “comercial” de se trazer o atleta.

Dá 100% certo? Não! Costumo fazer a comparação de que, quando se compra um celular, sabe-se de todas as características dele e ele entrega uma a uma. Quando se “compra” um ser humano, um atleta, sabe-se de todas as características externas dele. Só não se sabe o que se passa na sua mente e no seu entorno (problemas pessoais, família, caráter). Mas é lógico que esse processo minucioso de análise faz com que se mitiguem erros.

No passado trazia-se o jogador por ele saber “jogar bola”. Hoje traz-se o jogador por ele ter todas as características necessárias para se adaptar e desempenhar bem, num mercado de altíssima competividade. No passado, o mais talentoso certamente se daria melhor. No presente, se dará melhor aquele que melhor se adaptar ao processo, desde que tenha o mínimo de talento necessário.

Esse processo não tem volta. O produto de entretenimento precisa de dinheiro. O jogo mudou, é muito mais físico e tático do que era nos tempos românticos. Os jogadores são peças dessa engrenagem. E as peças são escolhidas para que façam o seu trabalho a contento. Se exige hoje uma equipe com todos os atletas nota 7; não se quer uma equipe com dois ou 3 atletas nota 9 e o restante com nota abaixo de 5.

Os “olheiros raiz” de antigamente acabaram. Ou se adequam ao processo moderno ou tem que mudar de profissão!

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