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ELIZABETH TITTON CABECA hojesc

Escritas

Nós, os humanos, habitantes do planeta Terra, escrevemos para registrar e comunicar nossas ideias que, de outra forma, seriam abstratas e fugidias, só podendo ser transmitidas para outras gerações verbalmente. Para atender a essa necessidade, foram sendo criadas as várias formas de notação através dos tempos, pelas mais diversas civilizações. Esses registros não utilizam apenas o alfabeto, como o nosso, mas muitas diferentes formas de representação de ideias além das palavras, como as notas musicais e a notação escrita de coreografias, para citar apenas algumas.

O nosso alfabeto, da língua portuguesa, é derivado do latim. Porém, o próprio termo “alfabeto” é originário do grego, que utiliza as duas primeiras letras “alfa” e “beta” – que são os equivalentes aos nossos A e B – para sua denominação. Ele é composto por 26 letras (grafemas), cada qual representando um som (fonema) da nossa língua. É uma escrita linear em que as palavras se seguem para formar frases e expressar um pensamento.

Monumento a Guido Monaco, Arezzo – foto: Tripadvisor
Assim são escritos e salvos para futuras gerações, ou para toda a humanidade, os mais lindos poemas de amor, como também os mais áridos estudos e pesquisas científicas.

De Alice Ruiz, em “Navalha na Liga” (música de Chicão):

se
se por acaso
a gente se cruzasse
ia ser um caso sério
você ia rir até amanhecer
eu ia ir até acontecer
de dia um improviso
de noite uma farra
a gente ia viver
com garra

eu ia tirar de ouvido
todos os sentidos
ia ser tão divertido
tocar um solo em dueto

ia ser um riso
ia ser um gozo
ia ser todo dia
a mesma folia
até deixar de ser poesia
e virar tédio
e nem meu melhor vestido
era remédio

daí vá ficando por aí
eu vou ficando por aqui
evitando
desviando
sempre pensando
se por acaso
a gente se cruzasse…

E, por falar em solo e dueto, existe a escrita musical que nem sempre sabemos decifrar e que faz uso do “Pentagrama”. Este, que na música serve de estrutura para o registro das notas musicais, é também o nome de uma estrela, símbolo muito antigo, encontrado em fragmentos de cerâmica de mais de 4000 anos. Com cinco pontas, essa estrela simbolizava, para os pagãos, os cinco elementos: terra, ar, água, fogo e espírito, sendo um sinal de proteção e harmonia. Assim como na música que, como uma estrela, ilumina nosso espírito, tantas vezes falando da terra, do ar, da água, do fogo e do espirito e onde a harmonia é tão importante.

“Mão Guidoniana”. atribuida a Guido d’Arezzo – sistema mnemonico medieval para o ensino do nome das notas
O “Pentagrama” musical, denominado pauta, é formado por cinco linhas paralelas e equidistantes onde repousam ou dançam as notas musicais, aquelas bolinhas brancas ou pretas, com perninha ou sem, que representam a altura e a duração dos sons. Além desses símbolos, existem as claves que são colocadas no início do pentagrama e que dão nomes às notas, além de diversos outros, como o que representa o silêncio na melodia: as “pausas”, cujos desenhos representam a duração de cada silêncio (o que, aliás, é muito importante, para que não ouçamos um som contínuo, sem interrupção). Guido d’Arezzo é considerado o pai da notação musical, um monge Beneditino nascido em 991-992 e falecido após 1033. Em sua época, os sinais determinavam as alturas das notas nos textos litúrgicos da Igreja Católica.

Música e poesia que contam e cantam histórias e amores vividos em nosso planeta encantado, iluminado por estrelas e habitado por seres meio loucos e indubitavelmente muito criativos, ficarão gravadas graças aos sinais: alfabetos ou pentagramas, criados em cada época, podendo, então, ser lidos ou decifrados pelos outros que virão nos suceder.

(Ilustração de abertura: Escrita latina – aprox século VI a.C – Imagem Pixabay)

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