Às vezes derivo para um viés político nesta coluna, que originalmente tem uma preocupação com qualidade de vida e saúde. Quando isto se dá, é muito mais por indignação do que por vontade própria, ainda que, é inegável, a política interfere na nossa qualidade de vida. Concordo que é uma tremenda ousadia de minha parte em face da plêiade de articulistas nessa área, existente aqui no jornal.
Há muito tempo trago uma inquietação no tocante aos financiamentos de campanha política. Acho que essa inquietação é a mesma de todas as outras pessoas, e pode ser traduzida por uma única questão: O porquê, raios, existem as doações para as campanhas políticas?
Você que le este artigo neste momento, pare e pense: quanto e para quem você já doou em campanha? Com raríssimas exceções, um ou outro ajudou um parente próximo, talvez quando esse encauto se aventurou em alguma eleição. Para depender da sua ajuda, provavelmente seu parente tentou uma vaga como vereador. Porque afirmo isso sem medo de errar? Por que já como deputado estadual em diante ,entra em campo o lobby das empresas que mantém “Negócios” com governos, e a partir daí os interesses ficam mega, e nestes casos, meu querido cara pálida, você é carta fora do baralho e suas merrecas suadas não representam nada.
Acompanhamos todas as prestações de contas dos políticos e seus partidos. Já perceberam as cifras? Fazem sentido? Através dos salários jamais recuperariam os gastos. E olha que os horários de TV e Rádio são gratuitos. E o que cobram os Joãos Santanas da vida pela sua indústria marqueteira? Aonde vamos parar? E o lixo acumulado nesse período? Graças a Deus na última campanha já houve legislação para punir quem poluísse a cidade com placas em cavaletes pelas ruas e cartazes em muros. É incrível como já surtiu efeito muito positivo. Agora a evolução deveria ser na limitação dos gastos em todos os níveis, com regras rígidas que valessem para todos, pois aí saberíamos quem tem propostas e não apenas poder econômico.
Vou mais longe, já vi em alguns carros um adesivo que diz “Política não deveria ser profissão”. Sou totalmente contra essa proposta, inclusive propondo o inverso, a profissionalização dos políticos, tornando-se verdadeiros profissionais, bem formados e informados. Como? Da maneira lógica, graduando-se. Por exemplo: sou médico. Não foi através de campanha que tive certo numero de votos e que permitiram sê-lo. Como também não é assim que as pessoas se tornam advogados, jornalistas, engenheiros, professores, etc.
Proponho a criação do curso de política dentro das universidades, cursinhos, vestibular e banco universitário! Teria que ser uma formação em nível superior. Isso é de uma necessidade tão premente que me espanto com a paternidade da idéia. Se é que já não tenha havido alguma proposição neste sentido, e neste caso, me desculpo pela pretensão. Fato é que nunca ouvi nada a respeito.
Somos representados pelo Zé do suco, pelo João do posto ou pelo Antonio da farmácia. Absolutamente nada contra qualquer um deles ou quem quer que seja, mas que formação eles tem para o exercício da representatividade de pessoas. Temos casos de semi-analfabetos, que se vangloriam disso, inclusive, eleitos.
Chegamos a um ponto da política que o sistema ruiu. É o fim da linha. Com o advento da lava jato tudo ficou muito escancarado. Envolvimento de politicos em todos os niveis, com raríssimas exceções.
O “modus operandi” da classe política é o que vemos estabelecido de há muito, ou seja, é o toma lá da cá. A obra só sai se for superfaturada para que haja dinheiro para todos os envolvidos, e assim vão se setorizando e se montando as quadrilhas. Modernas capitanias hereditárias.
Tem que haver um corte profundo na própria carne neste momento. Ninguém mais suporta o ponto em que tudo isso chegou. O barulho foi feito, as ruas foram tomadas e os protestos já aconteceram, dos últimos quatro presidentes, dois saíram pelo impeachment. Alguém quer prova mais cabal da falência do sistema político vigente?
Preocupa-me muito a seqüência dos fatos, pois se não houver punições exemplares e a mudança radical desse sistema, as ruas se esvaziarão, as vozes se calarão, pois ficarão perplexas, indignadas em seu grau extremo e se recolherão no mais profundo silêncio da dor, da desilusão e da incredulidade. A partir daí meus amigos só mesmo a providência divina para organizar o caos.
As ações devem ser prementes . Ao contrário disso, o grito ficará na garganta e as lágrimas no rosto. Nesse ponto vale lembrar Martin Luther King, “O que me preocupa não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons”.
Ou profissionalizamos nossos políticos exigindo deles o que é exigido de todas as profissões ou eles perpetuam o caos e mantém seu “status quo”.
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