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SILVIO LOHMANN CABECA hojesc

Dez anos do Acordo de Paris e a COP30

acordo

Após uma década, as metas do Acordo de Paris, firmado em 2015, consolidaram-se como bússola global da descarbonização para governos, empresas e cidadãos. Em praticamente todas as áreas da atividade humana há reflexos do tratado criado para frear o aquecimento global. A transição energética ganhou tração, com grandes volumes de recursos direcionados à geração de energia limpa, enquanto a mobilidade elétrica virou realidade. A economia verde e a bioeconomia também avançaram.

Há progressos, mas ainda insuficientes para limitar o aquecimento a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais (1850-1900). O calor é cada vez mais intenso em todo o planeta, e a crise climática segue uma trajetória de desastres cada vez mais severos. Medidas de adaptação e mitigação continuam frágeis e persistem resistências, desigualdades na distribuição dos custos da transição e a sobreposição da nova economia à antiga, sem substituí-la.

Outro desafio é o financiamento climático: países desenvolvidos não têm mobilizado recursos na escala necessária para apoiar países em desenvolvimento, o que alimenta desconfiança. Falta robustez e coerência nos compromissos de governos e de atores não estatais, além de mecanismos claros de responsabilização pelos efeitos causados ao clima.

Mesmo com fragilidades e tensões geopolíticas, o Acordo de Paris demonstra resiliência, apesar da ausência de uma liderança política global, da baixa solidariedade internacional e da fragilidade da governança climática. Passados dez anos, resta saber se a COP30 será decisiva para recuperar o ímpeto e reforçar a cooperação multilateral.

Fracasso plastificado

As negociações para criação do primeiro tratado internacional juridicamente vinculante contra a poluição plástica fracassaram novamente. Após 11 dias de encontros, na sede da ONU em Genebra, representantes de 184 países não chegaram a um consenso. De um lado, União Europeia, Reino Unido, Canadá e países da África e América Latina defendem limitar a produção e controlar produtos químicos tóxicos. De outro, nações produtoras de petróleo e gás querem restringir o acordo apenas à reciclagem e gestão de resíduos.

A discussão, que se arrasta desde 2022, tornou-se uma incógnita, sem nova data para retomada. O plástico movimenta US$ 1,1 trilhão por ano no mundo. Em 2023, a produção atingiu 436 milhões de toneladas.

ESG para PMEs

Um estudo com 117 pequenas e médias indústrias da Malásia, publicado no portal ScienceDirect, mostra que práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) fortalecem a capacidade de inovação e a resiliência desse segmento diante das pressões globais por sustentabilidade. A pesquisa avaliou como as práticas estimulam a adoção da manufatura inteligente e demonstrou a importância do acesso ao crédito para potencializar esse processo. A tese, escrita pelos professores Alexandra S. Kang e Swee Loke Hew, da Wawasan Open University, conclui que, em um ambiente de rápidas mudanças tecnológicas e regulatórias, integrar ESG, inovação industrial e facilidades de financiamento não é apenas um diferencial, mas condição estratégica para a sobrevivência e o crescimento das PMEs.

Banca sustentável (I)

Uma pesquisa da Global Alliance for Banking on Values (GABV) mostra que instituições financeiras que operam ativos baseados em valor conseguem unir retornos consistentes a uma visão estratégica de longo prazo, apoiada em práticas ESG. O estudo, realizado com 100 bancos comerciais, aponta que instituições com alta pontuação em questões ESG apresentam desempenho financeiro superior em comparação às de baixa pontuação, reforçando que a agenda pode melhorar a performance financeira e oferecer parâmetros úteis para investidores.

Banca sustentável (II)

O levantamento também confirma que falhas nas práticas ambientais, sociais e de governança já provocaram graves danos financeiros e de reputação a muitas empresas. Baseado na análise do professor George Serafeim, da Harvard Business School, sobre as ligações entre desempenho financeiro e foco em questões materiais de sustentabilidade, o estudo ressalta a importância de órgãos reguladores na produção de dados mais robustos para orientar o mercado. O trabalho contou com apoio do Banco Europeu de Investimento (BEI) e da Deloitte.

Offshore Brasil

O primeiro projeto de geração de energia eólica offshore do Brasil será realizado na costa do Rio Grande do Norte. Batizado de Sítio de Testes de Aerogeradores Offshore, o parque piloto terá capacidade de até 24,5 megawatts (MW). A iniciativa, experimental, será executada em alto-mar, a uma distância de 15 a 20 quilômetros do litoral, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI/RN).

Armazenagem geológica de CO2

A Comissão Europeia aprovou um regulamento que obriga produtores de petróleo e gás a investir em infraestrutura de armazenamento geológico de CO2 (Carbon Capture and Storage – CCS) em larga escala, como parte do esforço para alcançar a neutralidade de emissões até 2050. A meta é atingir 50 milhões de toneladas de injeção em 2030. A decisão lista 44 empresas responsáveis por desenvolver locais de armazenagem, com obrigações proporcionais à produção de combustíveis fósseis entre 2020 e 2023. A medida atinge setores como cimento, aço e químicos — considerados difíceis de descarbonizar — e vincula diretamente a responsabilidade climática à produção histórica de combustíveis fósseis. A iniciativa ainda precisa do aval do Parlamento e do Conselho Europeus.

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